Na cama com Raul
O Raul disse que não falava de amor quase nada;
Eu, Mutagambi, para os íntimos,
Sobre amor,
Perco tempo,
Bato um papinho;
Mas quando o assunto é trabalho,
Cuspo lavas de fogo,
E sem dar ouvidos,
Bato em retirada.
Raul tomou um pileque,
Entrou em coma,
Pulou na cama,
Deitei em cima.
Orai e Vigiai
Ora, ora,
De hora em hora,
Ora toda hora.
Como não ora,
De minuto em minuto,
Em tudo,
Em sociedade,
De criança em criança,
A formação familiar sem cor,
Indecorosamente,
Piora.
O escriba poderia até investir na gramática,
E em vez de miora,
Escrivinhá melhora,
Mas tudo piora,
Sem demora,
Dá sua contribuição,
Gargalhando,
Arreda-pé
Retira a pena,
Vai s'imbora.
Danosos religiosos,
Sob penosa religião,
Culmina em triste Religação.
"Orai, para que não caias em tentação".
Mimo
Hoje, neste exato momento e por mais algumas horas, mimarei, abraçarei, beijarei o velhão, o coroa, o aposentado e pagador de minhas contas, que também incluem as da sua nora, netos, bisnetos e dos netos catarrentos fecundados em úteros paralelos.
É mais que um pai,
É um papai com aço,
É um papaiaço.
Sem por nada na tigela,
Receba de bom grado essa homenagem,
Singela.
62 vidas (Volare)
Em terra firme,
Ou nos ares,
Passarilho,
Passaredo,
Passaralho,
Vidas em movimento,
Entortam,
Quebram,
Despencam,
Mesmo que sejam resistentes,
Feito carvalho.
Dizer: tenho asas e coração invencíveis pelos ventos, procelas marítimas e aceleração da gravidade, é mera ilusão dos vivos; afinal, se um urubu voando colidir com outro corpo, pode botar abaixo o corpo que voa em sentido contrário.
Portanto, não respeitar as leis naturais e nao agir com bom senso e prudência, é risco de morte.
Uma vez que estou impossibilitado de viajar o equivalente 18 vezes ao redor do planeta,
Investirei no lit(ro) erário.
Pago pelo erário público,
Bochecho uma no litro,
E escrevo com a pena.