Tem dias...

...que simplesmente eu gostaria de coexistir harmoniosamente. Mas não de forma produtiva, de forma que houvesse que gastar ou investir ações para realizar tarefas. Gostaria de simplesmente fazer parte do vão universo, como uma matéria que só se conecta e existe, que tivesse que fazer uma simples ligação para nada se desamarrar ou desfazer-se, ou seja, apenas estar lá.

...que eu gostaria apenas de transitar de forma autônoma e automática. Lavar a louça apenas porque se tem que lavar, sem precisar usá-la depois. Gostaria de transitar entre os cômodos e construções apenas porque existe o movimento, sem a necessidade de chegar em algum lugar, houvesse alguém me aguardando ou eu tivesse que realizar alguma atividade. E que tudo isso ocorresse de forma natural, como se todos reconhecessem e aceitassem isso pelo fato da possibilidade de ser livre de expectativas, de responsabilidades, de propósito, apenas por haver de ser.

...que penso que o sofrimento ou a felicidade não deveriam ser compreensíveis, fossem desconexos, desconhecidos, não desejáveis ou sentidos. Que apenas aceitássemos o que quer que houvesse de ocorrer, flutuando ou correndo pelo fato de haver o ir e o vir. Que pudéssemos buscar comida por sentir fome, sem medo de elevar taxas ou ter efeitos colaterais. Que deitasse pra descansar e conseguíssemos descansar, sem necessidade de contar o tempo como se uma atividade futura já incomodasse por ter hora marcada e fosse importante para algum sucesso, pois tudo que se precisa bastaria ir lá e pronto, conquistado.

...que desejo imensamente que o imaginar disso tudo não fosse tido como loucura ou infantilidade. Ou até mesmo que isso não houvesse vínculo algum com grau de sanidade ou desgaste, fosse só entendido como uma vontade possível e normal.

...que tudo isso passa pela minha cabeça, como uma vontade sincera pelo simples fato de estar cansado de sempre estar buscando espaço pra viver, pra realizar minhas vontades ou manter o que eu já construí. Porém, que piada sem graça essa. Tenho que ter dias de esforço e planos para alcançar a estabilidade de ficar ocioso sem precisar me incomodar, até o dia que tudo comece a se desfazer para ir lá, novamente, me incomoda para não precisar ter incômodos.