Comentário sobre o livro O Amante, de M. Duras
O livro é ímpar nas sensações que despertam no leitor, apesar de ser par em sua narrativa de descobertas e de prazer a dois.
Há uma beleza sem igual no tom poético do amor e da vida que o livro traduz em toque e apreciação.
O primeiro contato que tive com o mundo literário de Marguerite Duras foi em uma exposição de cinema francófono... o cinema francês é inconfudível. "Hiroshima, mon amour" me introduziu á Duras e ao entendimento contextual da herança oriental e colonial da esvoaçante autora, de origem vietnamita e com a ânsia por liberdade incrustada em seu DNA.
Minha admiração pela cultura francesa despontou no início da adolescência de um espírito que vinha revolucionando o meu jeito de ser e apurando o meu olhar para o mundo exterior. Assim, passei a me interessar detidamente na música de Françoise Hardy e de Joe Dassin, de épocas em que a França começava a sentir os primeiros abalos de seu orgulhoso decadentismo.
Inspirou-me a literatura de Annie Ernaux, que recentemente foi agraciada com o Nobel da Literatura, mas também na filosofia de Sartre e Camus, na sabedoria de Saint-Exupéry, no cinema de Meliès e na obra prima que nos legou uma personagem especial, Amélie Poulain em seu fabuloso destino, mas igualmente a música que a meu ver, tem os acordes mais belos que um piano pode emitir: "Comptine d'un autre été: L'Après-Midi".
Assim, não poderia ser diferente o fascínio poético que Marguerite Duras exerceria sobre o meu ser.
Portanto, envolta nesta atmosfera, restou cristalino que sou suspeita para falar sobre o jeito francês de viver o amor, seja em suas profundidades, seja em suas peripécias. Mas o tom exótico de alguns timbres que ressoam da Indochina Francesa, a simbologia de Saigon que reflete seu pensar, conferem à obra uma busca incessante por se tornar uma escritora indelével, que nenhum conflito nem mancha na história será capaz de apagar.
Penso que um dos traços de genial sensibilidade de Marguerite reside neste sentimento de pertencimento, de reverência à história e de entendimento sobre a sua essência e a sua origem. A fusão da intesidade ocidental francesa com a sutileza da simplicidade do oriente nos transporta para um universo singular que só pode ser exprimido por meio do tato e dos demais sentidos.