Aposentadoria
Enxada: o objeto que encheu muitos estômagos, hoje é peça esquecida no canto do paiol.
Durante seu ciclo ativo, ela foi vista enquanto forte, afiada, cavucadora e produtiva; atualmente, é vista e retirada dos escombros nas datas de pagamento das contas e boletos bancários da fazenda. E isso a motiva dizer que nem tudo é tão inútil, quanto parece; e por assim pensar, continua respirando vida.
Ainda que escorando nas paredes e desmontada sobre uma bengala, iludir-se ainda é uma maneira eficaz de mantê-la em pé e não menos, de dizer que a vida é bela.
Enxada, assim com todos os objetos, não passa de um comparativo metafórico; um necessário, porém irrefletido comparativo metafórico. Os olhos acesos para o novo e a gélida velocidade dos ponteiros dos relógios não permitem parar, reparar e pensar naquilo que não transforma trabalho em dinheiro, à cada segundo.
Piscou, as moedas de ouro tilintaram no caixa. Esse, sim, é o ruído que satisfaz, ilumina e embeleza o ambiente. Essa é a alquimia do vil metal.