CRISES AFETIVAS

O que existe para ser mudado?

Qual o objetivo de mudar o outro? 

Torná-lo um igual? 

Um clone? 

Um parceiro?

Tolice. Perda de tempo.

O indivíduo nunca foi tão indivíduo quanto na época em que estamos.

Fechados em nossas convicções através desta ligação virtual com o mundo e com centenas de informações por minuto, estabelecemos a relação com a máquina de uma forma hermética, protegida por senha.

E não trocamos palavras, sequer olhares, com aquelas pessoas que nos fazem companhia.

Quando o fazemos, geralmente é para pedir que não incomodem a nossa conversa virtual.

Então, a relação fora da máquina está em crise. 

A realidade está em crise.

O afeto está em crise.

O beijo não precisa de lábios.

O parabens não precisa de palmas.

O ciúme não precisa do outro.

Precisamos compreender apenas os acessos e as teclas, tolerar apenas as quedas de bateria, buscar apenas um novo pacote de gigabytes, sorrir apenas para os memes, se alimentar de pókemons.

Resta-nos a individualidade.

A ela, todo o nosso amor.

Todo o nosso afeto.