O tempo das coisas.

Tenho aprendido o tempo das coisas.

O tempo que leva preparar um prato simples. Sem nenhuma adaptação para que fique pronto mais rápido.

O tempo que leva entre eu acordar, cuidar dos animais, ler, e só então, preparar o café para sair.

O tempo que eu levo entre um ponto e outro da cidade. Andando. De bike.

Nós fomos criados para chegar cada vez mais rápido, fazer cada vez mais coisas ao mesmo tempo, produzir. Trabalhar o triplo. Fazer enquanto eles dormem. Otimizar o máximo do tempo.

Pra que essa correria? O que nos espera depois disso tudo? O que tem na linha de chegada senão a tão temida morte?

Na teoria, deveríamos otimizar nosso tempo para termos mais tempo livre (tempo de lazer, até então), mas o que fazemos nesse tempo de lazer? Que tempo de lazer é esse? Duas semanas de férias depois de meses trabalhando incansavelmente? Um feriadão pós pagamento? Para que serve esse tempo de verdade?

E os outros dias do ano? Todos eles? Mais de trezentos dias por ano correndo, otimizando tempo.

Não sabemos lidar com tédio. Não sabemos lidar com fazer nada. Ficamos doentes. Ansiosos. Não conseguimos aproveitar quinze minutos caminhando. Meia hora de almoço. Uma hora para voltar para casa. Porque estamos correndo. Otimizando nosso tempo. Produzindo. Produzindo o que? Sucesso? Garantia na melhor idade? Onde está escrito isso?

E se amanhã acordarmos e morrermos? Onde deu toda essa correria? Se você morresse hoje, do que lembraria? Qual seria sua resolução de vida? Você sentiu o gosto da sua última refeição? Ouviu música porque realmente gostava dela, ou para fugir de sua mente em constante tumulto?

Saia dessa roda de hamster ao qual está enfiado. Desperte. Fuja para o mato. Observe a água corrente. Veja quanto tempo demora para o sol se por, e não conte esse tempo no relógio. Conte quantas vezes você respira enquanto isso. Sincronize-se com o tempo real.

A Musa Irregular
Enviado por A Musa Irregular em 08/11/2023
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