Mesinha de cabeceira

Em dias ruins, onde aquela presença torturava minha mente, eu costumava apagar tudo

Jogava fora os objetos, bloqueava das redes, apagava as mídias

Fingia que aquela pessoa não fazia mais parte de mim

Eu sempre soube como me torturar

Pouco adiantava, a presença está em todo lugar

3h da manhã de uma quinta feira

Ao apagar o abajur pra tentar dormir

Vejo que minha mesinha de cabeceira está quase tombando

Ela é de madeira, tem três pés

Um deles, está quebrado

Ele quebrou na segunda vez (se não me engano) que foi em minha casa

Pensou ser um banquinho

Ela parece mesmo um banquinho, mas nunca assumi isso

Nunca consertamos a mesinha

Então se você mexer muito ela de lugar, o pé desmonta

Tá assim até hoje

Não sei se quero arrumar, gosto dela assim

No fim, a pessoa vai embora, as coisas mudam de lugar

Mas sempre, sempre tem alguma coisinha da pessoa ali

Nem que seja na sua cabeça

E você, paciente leitor, sabe

A cabeça da gente nunca esquece o que precisa ser esquecido

Grande filme O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

É o meu favorito

Meu sonho um dia poder vivê-lo

Só pra poder apagar aquela criatura tão absurdamente incrível da minha cabeça

Aah, meu Deus, aqueles olhos

Daria anos da minha vida pra poder vê-los de novo com sede de mim, da gente

É uma pena, mas tem sido mais fácil engolir que nunca mais os verei de novo

Aquelas pessoas não existem mais

Nem a que olhava, nem a que era desejada

Tempo cruel

Impermanência miserável

Fazer o que, né, a vida é essa

Ai de você achar isso ruim

A Musa Irregular
Enviado por A Musa Irregular em 19/09/2023
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