Domingo, sol e infelicidade
Infeliz cidade. Um sol ameno que queima discreto, um chão úmido de uma chuva tímida. O céu cinza, meu rosto pálido. Os insetos voam, as plantas crescem e eu penso, e escrevo, e sonho, e choro por dentro. Estou cansado de estar cansado, exausto da minha paralisia. Busco autoconhecimento e quanto mais me conheço mais triste fico. Como pode um só ser humano guardar tantas mágoas? Como pode uma mente ser tão ansiosa? Como pode um peito ser tão triste? Como pode um agente do devir ser tão inerte?
Sinto-me como um bêbado buscando equilíbrio numa fina linha de nylon esticada através do meu abismo. Sinto-me com sentimentos presos. Nenhum choro lava minha alma, nenhum grito expurga completamente meus demônios. Sinto-me a flor da pele. Uma rosa espinhosa, um cacto com espinhos internos. Sinto meu desconforto com angústia, busco isolamento, distância. Machuco quem me ama, desconfio de quem entrega o coração buscando leveza.
Sinto-me um escárnio, um verme, um peso, um problema, uma alma penada sem salvação. Sinto saudade de um sossego que não lembro de sentir, de uma paz que não lembro de ter, de um abrigo que seja bem cuidado. Eu estou doente. Estou definhando pouco a pouco, magoando quem me ama, perturbando quem me quer por perto.
Eu sou um doente terminal cuja percepção se decompõe com o passar dos segundos. Cada tique-taque do relógio é uma gota de sangue que meus olhos derramam. Minhas palavras soam com exagero e tudo que é dito, ora parece piada, ora parece mentira, ora parece um desconfortável eufemismo. Eu respiro, mas me sinto morto. Eu falo, ando, sorrio, andejo e me atiro no mundo, mas sinto-me sufocado como se estivesse enterrado a 27 palmos da terra.
Talvez eu nem seja somente esse ponto de tristeza flutuando num universo de vazio. Talvez esteja triste e com tendências ao exagero. O que eu sei é que quero mudar, preciso. De situação, de cidade, de estado, de país, de planeta. Eu sou uma criança sozinha perdida no supermercado, aos prantos, enquanto os responsáveis chamam pela caixa de som desesperados à procura. Eu sou um corpo sendo implodido pelo oceano da culpa, de inércia, da paralisia, da procrastinação, da ansiedade, da depressão, do pânico, do desespero.
Eu sou um artista em sofrimento psíquico, um paciente impaciente na terapia. Eu sou a morte do meu ego que cego não vê sentido.