Aquela mesma merda de sempre, paciente leitor
Passei em frente à tua casa hoje, devagarinho
Quase te vi saindo e me encontrando
Era quase palpável esse pensamento
De súbito voltei à realidade
Aumentei a música e acelerei a bike
A descida termina comigo ofegante, com sede
Paro pra tomar uma
Vejo uma moto do modelo que tu queria
Por que infernos você precisa estar em tudo assim?
Abro Instagram, terceiro story aleatório
Açude Velho ao fundo de alguém que se exibe correndo
Lembrei do dia que estávamos nessa mesma calçada falando sobre o seu futuro na cidade
Cidade boa, cê tava precisando mesmo
Lembranças novas e antigas
Risos tão íntimos que enlouqueço só de pensar que outros olhos já os viram
Dores e sabores que nunca mais vou sentir de novo
Felizmente ou infelizmente
Começo a sentir falta até do que me fez mal
Naquele dia e nos outros
Assim funciona o ciclo da saudade
Te vendo em cada esquina até emergir no que ainda lembro
Procurando coisa em casa que me faça acreditar que você ainda pisa ali de novo
Julgando cada passo meu com seus olhos
Sim, aqueles pequenos olhos escuros
Doente de ciúme sempre que lembro da sua vida sem que eu esteja por perto
Me torturando até me perder e me sumir do que sou
Procurando a última migalha de você em mim
Quem dera fosse só uma migalha
Às vezes nesse corpo só fica o que eu lembro de você
Sinto tanto que dói
Queria que morasse mais longe
Você ainda é quase palpável