alimento
não caibo na pele, esticada debaixo das vestes. não caibo no corpo, dolorido que se move inconstante. não caibo na rede que balança enjoativamente no quintal; nem tampouco no instante me tirou de casa e lançou fora para fingir costume diante da rotina (que também não caibo). o alimento não cabe em mim, nem a maçã, nem qualquer substância que preencha, pois já estou transbordando; pele, corpo, instante.
existir estica, é por si só uma crise aguda. no âmago do estômago, trezentos sentimentos se contorcem denunciando uma agonia de ordem psíquica. somatizo como faziam e fazem as histéricas, somos todas loucas, problemáticas, cronicamente infelizes. nas sutilezas da rotina que não aguento mais, ouço uma criança chorar. ela não é minha. eu choraria também se pudesse. a pele dela irá se esticar diante do crescimento, sua existência ganhando uma dimensão maior, ocupando um espaço de crescimento visível. a criança viverá crises, viver é incurável.