abrupto

o que eu deveria fazer com a palavra? dita, verbalizada, mastigada, deglutida, escarrada, expulsa.

o que era pra ser feito com as frases que diligentemente registrei e agora se materializam; seja nos sonhos, seja em expressões comportamentais não calculadas. tão automático quanto abrupto.

e o que fazer com a verborragia que palpita na falta de sono ou durante a dormida?

a lacuna gigantesca deixada pela palavra, expulsa na frase para fora de quem a disse, e vomitada em quem a ouviu.

me fogem as palavras, me foi delimitado o local de receber o escarro, o escárnio e a coragem para agir depois como se nada tivesse acontecido.

me fogem as palavras ou as tiram de mim? qual responsabilidade é a minha com essas palavras que nem disse? impregnaram o ambiente, mas não só. nem saíram por essa boca que aqui vos fala, que se entreabre em choque, depois abre ainda mais durante a tentativa de tomar fôlego; que leva a expulsão, ainda que não seja da palavra.

Vitória Almeida
Enviado por Vitória Almeida em 01/06/2023
Código do texto: T7802772
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