Abismo

Por poucos segundos, enquanto te olhava, eu pude ver o futuro de tudo. Eu era temporário, destinado, e mergulhava no abismo de medo envolto dos meus próprios pensamentos sobre como a realidade havia se tornado um pesadelo terrível. Senti como se os vestígios de dor, que haviam inundado meus olhos naquele momento, tivessem se tornado parte indubitável de mim mesmo. Eu estava sozinho, como um peixe beta nadando lentamente pelo meu aquário sujo, preso em mundo próprio e incapaz de estabelecer qualquer comunicação através da parede de vidro que separava a minha existência da sua. Enquanto aquilo durasse, eu estaria cada dia mais fora da vida, mais alheio as suas implicações. Lembrava de noites que permaneci acreditando "se eu pensar o suficiente sobre todas as coisas, logo tudo estará resolvido". No final das contas, fiquei tanto tempo por lá que nem mais pertencia a algum lugar, nem mesmo me sentia preso ao vazio, isso seria algum tipo de conexão, aquilo era algo que eu não era capaz de definir. Então, ali, proclamava-se o epílogo de como me perdi no meio do caminho, de como fui tomado pela apatia perante todas as coisas que estava tentando alcançar, de como fui afogado pela tristeza enquanto encarava sozinho a distância abismal entre o pretendido e alcançado. Daquela sensação sufocante, muito familiar, que envolveu minha alma com a mesma força e intenção de um estrangulamento. Naquele momento, antes que você percebesse, minhas lágrimas secaram, mas sabia que novas lágrimas eventualmente ocupariam seus lugares, minha mente ficou dispersa, e eu sabia que outros pensamentos como aquele logo estariam sob a luz da minha consciência. Eu era temporário, e olhava para você como se fosse eterna, você se mostrava esperançosa, enquanto em mim já não havia mais nada.