Reticências da Natureza
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Escandalizam as maritacas,
Vocalizam as saracuras,
Retrucam as siriemas,
Intrometem-se os jacus,
Pula-pula o Tiziu,
Fazem bandeira dos galhos, os papa-capins,
Grunhem os quero-quero,
Sarabandeiam os canários,
Apressa-se a solitária curruira,
Bisbilhotam os bem-ti-vis,
Martelam os trinca-ferros,
Tilintam as arapongas,
Pavoneia, o pavão,
Espreitam as águias,
Piam alto, as harpias.
E Deus alegra-se, bate palmas em pé, assovia para esta perfeita bagunça em forma de oração, regida pelos gorjeios harmônicos dos maestros sábias.
Unicidade:
É mais que mágica sutileza, é sublime unicidade, quando os pais chegam em voo rasante, pousam à beira do ninho e lá dentro, os filhotes de olhos fechados esticam os pescoços e põem-se a piar uma oração de bico aberto, como pedido e agradecimento pelo alimento. E os bicos tocam-se, mutuamente.
Certas obras da Natureza, é verso de um livro de poesias não lido pelo homem.
E o que não é lido, não é visto pelos olhos, não é sentido pelos batimentos do coração.
Talvez, isso explique porque o homem está próximo de tudo; e tão distante, muito longe, ano-luz de alcançar o dedo de Deus.
O escritor sem métrica recorre a Natureza, cujo intuito é escrever em palavras as poesias permeadas pelas reticências.
Hoje é sempre o dia certo de fazer as coisas certas, de maneira certa. Amanhã será tarde -Martin Luther King