Reticências da Natureza

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Escandalizam as maritacas,

Vocalizam as saracuras,

Retrucam as siriemas,

Intrometem-se os jacus,

Pula-pula o Tiziu,

Fazem bandeira dos galhos, os papa-capins,

Grunhem os quero-quero,

Sarabandeiam os canários,

Apressa-se a solitária curruira,

Bisbilhotam os bem-ti-vis,

Martelam os trinca-ferros,

Tilintam as arapongas,

Pavoneia, o pavão,

Espreitam as águias,

Piam alto, as harpias.

E Deus alegra-se, bate palmas em pé, assovia para esta perfeita bagunça em forma de oração, regida pelos gorjeios harmônicos dos maestros sábias.

Unicidade:

É mais que mágica sutileza, é sublime unicidade, quando os pais chegam em voo rasante, pousam à beira do ninho e lá dentro, os filhotes de olhos fechados esticam os pescoços e põem-se a piar uma oração de bico aberto, como pedido e agradecimento pelo alimento. E os bicos tocam-se, mutuamente.

Certas obras da Natureza, é verso de um livro de poesias não lido pelo homem.

E o que não é lido, não é visto pelos olhos, não é sentido pelos batimentos do coração.

Talvez, isso explique porque o homem está próximo de tudo; e tão distante, muito longe, ano-luz de alcançar o dedo de Deus.

O escritor sem métrica recorre a Natureza, cujo intuito é escrever em palavras as poesias permeadas pelas reticências.

Hoje é sempre o dia certo de fazer as coisas certas, de maneira certa. Amanhã será tarde -Martin Luther King

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 18/12/2022
Reeditado em 18/12/2022
Código do texto: T7674455
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