Procuro o meio-termo

Diante de tanta chuva, minha coleção de lesmas e caramujos está encharcada de água.

Através da amostragem doméstica, estudo a revolução interplanetária, pois se a deixo na água, os animais correm risco de afogamento. Se deixo-a sob o Sol, esturrica os bichos.

Sob um sistema radicalizado e antes que o cume terra venha abaixo, seguido de estouro de barragem, estou em concordância com Confúcio, "quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?"

A morte é individualizada, em contrapartida, por necessitarmos um do outro, o ato de respirar a vida é coletivo; pelo menos é o que dizem os falaciosos hipócritas.

Bloqueado - a vez dos pernas de madeira

Dando lugar ao burocrático, apático, sonolento, inexpressivo, a arte de jogar futebol estratégico de cabeça erguida, com ensaios geométricos de lançamentos longos, tanto quanto cadenciado pela técnica, acelerado por todos os lados da cancha, adversário na roda e dribles curtos com a pelota colada, mansa, rendida aos pés, está bloqueado na Seleça Europeia Brasileira.

Futebol brasileiro era poesia escrita com as pernas e a cancha composta de relva verde, a imensa folha de papel retangular. E quando os artistas se encontravam para criar os versos e rimas nas estrofes, os adoradores da arte arregalavam os olhos extasiados com a plasticidade das jogadas e gols. Afinal, sem vedetismos e vaidades de super heróis, a originalidade das belezas de coisas populares vão onde a massa está. E ao traçar, desenhar e pintar o mesmo quadro, ambos se completavam.

A Rede Globo e a mídia de modo geral, os técnicos, os dirigentes, a corrupção, o dinheiro aos montes, a desnacionalizacão de jogadores e torcedores sem a menor criticidade sobre o que foi, e o que é o esporte, destruíram a poesia dos artistas dos morros, única arte contemporânea que até no fim do século passado, era genuinamente, Brazuca.

Acompanhado pela solitude, não a toa que faço cicloturismo. Dentre as várias modalidades, viajar é sublime; contudo, prefiro viagens completas.

O Barroco musicado de MAA

Os militares contribuiram e muito, para o bem da arte musicada. Entrou a democracia, a boa arte foi silenciada pelo assalto das porcarias democráticas dos que as têm como pluralidade.

Refúgio interior, é quando isolamo-nos, em nós menos; e a arte pela arte exige isso do artista, que humildemente, plasticamente, pinceladamente, harmoniosamente, dedilha o instrumento, pinta o quadro "Isolamento" e acata, fielmente os instintos.

Só você poderia retratar tão bem em notas, acordes e arranjos, a subjetidade da "soltura de um cisne pela sorte." E sob sua regência, ele nos vêm de asas abertas em vôos rasantes, anunciando a horda de anjos tocando flauta, oboé, violão, baixo, guitarra, bateria. Tudo muito orquestrado.

Filosofando: da rebeldia nasce o gênio. Pessoas facilmente pradonizáveis, nascem puras, autênticas, genuínas, para depois de demoradas décadas, morrerem endinheiradas, poderosas, megalomaníacas.

Essas, não passam, senão, de massa de manobra a mando dos Reis.

Muitas vezes, a miserável, mesquinha, autoritária e insubordinada morte não permite ao gênio e justo humanista, tempo suficiente para mostrar seu talento e dom; os quais fariam mais, muito mais pelo seu semelhante.

Mas valeu Marco A Araújo pelas obras que deixastes, em tempo tão curto!!

Bons legados não se medem pelo volume e quantidade, mas pela qualidade da safra. E isso, a morte, a democracia reinante, tampouco o tempo, apagam; pois, vives na pulsante arte mineira, a qual, os ouvidos de Aleijadinho apreciam e as mãos do artesão do barroco mineiro unem-se, em agradecimento.

Curvar-se diante das excelentes obras, é sinal de reconhecimento dos humildes; ainda que os humildes sejam ou tenham sido, extraordinários.

P.S: se quiser conhecê-lo, ouça Influências 2; ou todo seu trabalho.

A água tomada por Dionísio

Se tens que lidar com água, consulte primeiro quem a conhece, em seguida a razão; e depois de muito ponderar os pós e contra conformer a estação do ano, sua emocão em lidar com ela. - falou Dionísio

Favas e Velas:

O machucado,

cubra-o com esparadrapo;

E o maltrapilho, poeta ou filósofo,

sobre as vergonhas,

ponha os trapos.

A partir de hoje, fica decretado e assinado em edital, que nada deverá ficar à mostra. Sem obstar, acatem o decreto.

O Ardiloso Baleia

Se lembro-me bem, um dia desses o meu cão Baleia encontrou um focinho de cotia e um rabo de raposa queimados, por aqui.

Agora, com essa chuvarada, parecendo uma foca e os rios cheios, Ele mergulhou n'água; e vêm brincando, empurrando uma bola que boia, com o focinho.

Em segurança, desvio os olhos dEle. Penso: observo o tempo, ouço e reflito sobre os discursos dos homens, atento-me aos sinais e percebo amiúde as leis da Natureza, respeitando-as, fielmente, cujo intuito maior é ser poupado dos absurdos causados pela minha espécie.

Eu e o Baleia, vivemos bem sob decretos, leis, Medidas Provisórias e procedimentos corretos.

Vamos Baleia, encerrado por hoje o passeio. A bola achada? Leve-a. Como? Como trouxestes: rolando-a com o focinho. Maldade minha? Um pouco!

Se tudo é movimento, a primeira coisa que aprendi na vida, é que o mundo é uma bola que rola. Mas, manda o bom senso e os disciplinados inteligentes acatam, que sejamos moderados em tudo, senão a bola desembesta ladeir'baixo. Águas abaixo. Descer é fácil...

As águas, tanto de rios vazios ou de mares cheios, não leem as biografias de quem nelas se aventuram.

As águas são rebeldes. Brutas. Intransponíveis. Imponderáveis. - ponderou Dionísio

A água tomada por Dionísio é precaução e sabedoria!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 06/12/2022
Reeditado em 14/12/2022
Código do texto: T7665747
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