Eu queria (me) entender
Eu queria entender o motivo de só conseguir escrever quando vejo que a dor me alcançou o peito de tal maneira que pôr pra fora, na verdade, já virou uma questão de vida ou morte.
A mão abraça a caneta como faz um forjador, que segura nas mãos o poder de criar o mundo. E o mundo, meu bem, não é nada mais que um cinzeiro. Um cinzeiro cheio de lembranças de mais uma noite de desamor.
Foi quando eu te conheci e pude então entender que, de mim, não posso esperar muitas páginas enquanto troco passos com a alegria. Mas se assim é, o que faço eu aqui, então? Acho que até você, meu inquieto leitor, também já tem esta resposta: pois nada vai bem.
E como um forjador que passa uma década sem voltar à forja, mas se lembra de cada particular procedimento - ainda que um pouco enferrujado, é verdade -, eu volto à vida pela caneta que toca o papel.
Que é pra ver se me entendo - eu queria me entender, mas não consigo -, que é para ver se te entendo, que é pra talvez ver mais de perto o (meu) fim.