Vencendo a depressão
Não sei exatamente quando minha vida começou a mudar, só hoje sei que ela mudou. Algo meio óbvio de se saber, pois não há algo mais certo no mundo do que a mudança, mas tenho certeza que você me compreende. Sabe a que mudança estou me referindo, a mudança que muitas pessoas vivem a esperar, com mudança com eme maiúsculo. Não a percebi chegar, mas hoje sei que ela aconteceu.
Quando comecei a lidar com a depressão, alguns anos atrás, não acreditava que a mudança pudesse vir, em meus momentos mais obscuros achava que estava perecendo lentamente, condenado a diminuir até desaparecer.
Por muito tempo, vivi a vida no piloto automático, sem encontrar prazer em nada, sem motivos para sorrir ou chorar, não via propósito na minha existência e contava os dias para o meu completo desaparecimento. Hoje, compreendo que isso nunca foi o que eu quis realmente.
Conforme fui crescendo, a depressão cresceu comigo e não demorou para encontrar uma aliada, a ansiedade. Sentia-me atirado de um lado para o outro entre as duas: uma me forçando a lutar para sobreviver e a outra me fazendo implorar para querer morrer. Felizmente, as duas sairam derrotadas, eu venci.
Não afirmo que estou totalmente curado, estes transtornos ainda me assombram, mas ao me permitir conhecê-las melhor, buscar entendê-las e principalmente, conhecendo a mim, fui aos poucos e com bastante esforço aprendendo artimanhas para me esquivar das quedas que elas me davam, diversas vezes caindo, inclusive.
Comecei pequeno, com pequenas atitudes, celebrando as conquistas por menores que fossem e me sentindo grato por tudo que conseguia fazer, inclusive pelos, até então, escaços minutos em que conseguia me sentir bem.
Enchi-me de mantras, vasculhei doutrinas religiosas, algo fizesse sentido para mim e encontrei na vida a força para me reerguer, mesmo quando precisava dizer a mim mesmo, que era só por mais um dia. No fim, não foi a religião ou os mantras que me ajudaram e sim, minha determinação a querer sair daquele estado.
Não foi de um dia para a noite, levou tempo, tive recaídas, muitas vezes acreditei estar regredindo, mas toda experiência foi fundamental para me tornar cada vez mais forte para alcançar o objetivo de estar bem. Compreendi que necessitava transformar todo o conjunto, corpo e mente. Matriculei-me em academias (um dos passos mais importantes para mim), com a ajuda de amigos fui lá, e tomei gosto. Mesmo nos dias que não tinha a menor vontade de sair de casa, me forçava a ir e acabava percebendo que aquela tinha sido a melhor coisa que fiz por mim naquele dia. Uma ação, levava a outra, busquei a terapia, mais um importante passo em direção à mudança, fui fazendo amizades, melhorando a qualidade dos meus relacionamentos, aprendendo a dizer não às pessoas e a não querer mais me forçar a parecer alguém que eu não era.
Transformei meus piores monstros em arte, pintura e poesia, prendendo-os a uma tela ou ao papel, fui me libertando cada vez mais deles. Eu os moldava, eu estava no controle agora.
A paciência foi o ingrediente mais poderoso. Entender que as coisas não melhoram num passe de mágica é entender que todo dia elas estão melhorando um pouquinho. Reconheço hoje que as minhas sombras também fazem parte de quem eu sou e que nem por isso me torno menos digno de ser feliz.