Consolo na arte, com solo no ser
O ser se frustra ao não tornar real o ideal de sua própria criação, enquanto a arte se frustra ao macular com imperfeições humanas a sua nobre imanência. Quando a arte imita a vida, ela se torna espelho, quando a vida imita a arte, ela se torna martírio. É preciso se empenhar na persistência de sonhar sem expectativas, sendo assim, importante matéria para a criatividade artística. E é preciso mais ainda, permitir-se desmoronar para que a arte se sirva da tinta melancólica que pinta o abatimento, posterior consolo universal traduzido em palavras ou pinceladas. Mas não se pode viver em função da arte, nem buscar avidamente acontecimentos extraordinários, isso seria a escravidão estética do sujeito, é necessário que a vida seja arte por si só, em uma perspectiva quase parnasiana de primores. Arte é mais que simetria e beleza, a arte é um refúgio distante da vida, mas que carrega muita vida em si e em sua efusão, não sendo feita de superficialidades, mas sim daquilo que o coração humano permitiu expressar através da lente da sensibilidade, uma vez que o verdadeiro artista não é aquele que se prende ao ofício de fazer arte. O verdadeiro artista enxerga a arte no mundo, é o pincel de sua própria existência encerrando a arte em si e alforriando-a ao mundo quando for propício exteriorizar sua intimidade poética, que impregna desde as tarefas mais simples e necessárias do cotidiano comum, até a mais sublime das obras-primas. É pela responsabilidade que a arte assume de amortecer os baques inadiáveis que os dias esforçaram-se em fortalecer, que seu efeito consolador se exprime, atenuando as incertezas, como fortes correntezas na profundeza do ser. Soa vazio pensar na ignorância perfeita que a arte representa àqueles que dela se embriagam com gosto, não é suficiente concluir que a arte se veste de uma fantasia colorida, tal qual o teor dos sonhos. É preciso esclarecer que arte é munida das melhores intenções, ainda que tantos a tenham distorcido no benefício próprio de enganar a si.
"A arte torna suportável o aspecto da vida, cobrindo-a com o véu do pensamento imperfeito." (Nietzsche)