Sobre a felicidade
A felicidade é antes de tudo, uma angústia.
Uma angústia porque a busca incessante por um estado de espírito que concretize todas as idealizações se revela um fanatismo intransponível daqueles que não compreendem as oscilações naturais da vida, com seus cumes e seus vales.
Onde encontrar a felicidade? Ou melhor ainda, o que é ser feliz?
Ser feliz é ter sucesso, saúde e amigos. Mas ser feliz também é poder apreciar o sopro do vento nas folhas de uma árvore e o azul límpido do céu em um passeio no parque.
Felicidade é a esperança do reencontro com todo tipo de aspiração lançada.
O caminho até o suposto tesouro da felicidade é menos uma aventura que um sacrifício. Primeiro por não existirem mapas certos, posto que a felicidade é desprovida de qualquer norma ou direção, sendo ela a própria bússola. E segundo, porque o caminho a se percorrer expõe uma intensa necessidade de se despir da noção ingênua que é própria dela, e a partir de então, repensar o que é ser um sujeito feliz, para além de deter o material abstrato do qual a felicidade é feita.
É fácil viver sob as luzes de felicidades de fachada, em doce aparência. Difícil é suportar as frustrações na sombra da verdadeira felicidade. Viver em eudaimonia é um privilégio para poucos, é encontrar o bem-estar e o equilíbrio na plenitude moral das contradições humanas que edificam o ser pensante e desejante.
Duro é ousar mover pedras e montanhas nutrindo a ilusão de chegar a algum lugar, quando o valor da experiência e o conhecimento adquirido na trajetória, são a fortuna do homem sábio e disposto a desconstruir a imaginativa e infeliz ideia de felicidade um dia proposta, e brutalmente ditada por aqueles que em sua fatalidade, lutaram por justificar sua desventura.
Me pergunto qual teria sido o destino da poesia se a felicidade imperasse e as tristezas em ímpeto, fossem eliminadas do mundo. Todo terreno da criação humana entraria em colapso, visto que a melancolia e o abatimento são pilares universalmente compartilhados, pelos meandros da sensibilidade primitiva, que não se extinguirá com promessas de um gozo alegre e iluminado.
Só nos é permitida a felicidade, porque sofremos. E com o sofrimento, nos regozijamos por rememorar passionalmente a condição a qual estamos presos, e assim, nos sentimos conectados àquilo que somos em essência, que vem à tona em uma sensação longínqua de felicidade.
A morte, o amor não correspondido, a tragédia, a dor, a miséria são só algumas de tantas provações que conhecemos em vida. Mas não basta fincar os pés em solo pessimista, ser feliz passa pelo crivo da aceitação sobre a realidade. E a poesia, a arte, a literatura e a música definitivamente não pertencem a essa gente que digere, mas sim aos e inconformados e aos orgulhosos de sua infelicidade, que sem dúvida, são os mais felizes.