Angústia de escritor
Não importa quantas páginas eu preencha com palavras das mais variadas profundidades, minha escrita nunca será o suficiente. Nem para o mundo, e muito menos para mim mesma. Sinto que o escritor não é aquele que melhor se expressa por palavras, mas sim aquele que encontra nelas, um desafio que o desconcerta, até que se depare com o mergulho intransponível no lago singelo da palavra exata. É simples ser objetivo quando o assunto se resume ao ato revolucionário que é escrever, mas ao encontrar na escrita uma filosofia que pende para um desabafo literário, o emaranhado existencial de que somos feitos confunde-se com o oceano de possibilidades que o vocábulo personifica. As palavras se vestem de seu significado primeiro, transtornando com uma ilusão, aquele que se afirma como domador da língua, mas é somente em seu âmago, que o efeito preciso da palavra se oculta. Enveredar-se pelos mistérios da arte literária, me parece o destino maduro daqueles que um dia permitiram se aventurar. Mas tal tarefa é cansativa, visto que exige a repetição do encontro consigo em cada trecho de criatividade fluída, até mesmo lidar com a solidão é mais fácil do que com a própria companhia. O exemplo mais claro que eu poderia dar sobre isso que escrevo, está acontecendo agora, nesse curioso instante de fim de frase: o caminho para se chegar ao fim da linha e à finalidade daquilo que é reunido no papel, é um só, mas a tentação das pequenas trilhas ramificadas nos conduz aos caminhos alternativos, nos desviando do objetivo que traçamos, mas nos aproximando daquilo que na verdade mais precisávamos conhecer a respeito de nós. Assim ocorre, o movimento mecânico do encontro e do desencontro, aquela aflição pela repetição sem fim da escrita, em busca da exatidão com aquilo que mais ansiamos exprimir. Frequentemente nos esquecemos de que não somos plenitude, tão logo nossas obras apenas podem beirar a perfeição, sem adentrar no terreno quieto da totalidade. Me pergunto o que aconteceria se encontrássemos o ponto G da palavra, em meio à vibração tímida da linha de raciocínio espelhada nos fragmentos escritos. Será que as letras perderiam seu encanto e as palavras nos desinteressariam? Ou descobriríamos segredos inimagináveis de um novo mundo? Além das conjecturas que faço sobre o que não é, e talvez nem poderia ser, há outra agonia que sempre me acomete: a sensação de que tenho muito o que falar ao mundo, o que embaça meu olhar sobre o momento de concluir em texto meu pensamento atiçado. Toda conclusão é a ironia de um fim, uma vez que o empenho para soar belo, omite uma interrupção daquilo que é mais sagrado na dimensão do humano: o milagre de criação a partir da reflexão. Ainda não disse tudo o que gostaria, nem a metade do que projetei antes da primeira letra desse texto, cuja brevidade era para mim, uma certeza. Tenho em mãos somente o que sou e a parte de mim que aceitei conhecer. Eis aqui toda a minha angústia.