Folha Seca

Com o tempo...

A tristeza aumenta

A esperança diminui

A dor dilacera

Até que não se sente mais nada.

Nem dor

Nem choro

Nem emoção.

Mas mágoa, desconfiança, indiferença.

Tudo o que um dia foi esperança

Vai-se com a frustração,

Com a mágoa,

Com o sentimento.

Nada mais sobrevive

Depois de tanta solidão.

De discussões

De acusações

E agressões.

O que resta então?

A promessa de um amanhã diferente,

De uma nova paixão ardente,

Sem culpados, sem culpa,

Certo ou errado?

Mas quando algo já começou errado,

Ao menos torto,

Em que a vida moldou com dor

E o tempo, com rancor!

O que se pode aproveitar

De um sonho perdido,

Uma realidade machucada,

Um futuro imprevisível?

O medo de agir

A segurança de não se mexer.

A incerteza do porvir!

A comodidade de não se arriscar...

Tudo, tudo se torna dúvida

Neste mar de incertezas,

Onde ninguém, ninguém,

Pode afirmar o seu propósito.

E acusar o outro.

Porque este propósito, por si só,

Já é dúvida.

E que sejamos sinceros:

Nenhum de nós pode afirmar

Que tem certeza

Ou que está certo.

Que eu me garanto

E que o outro não se confirma.

Sejamos, ao menos, justos.

Um com o outro.

Ao menos isso.

Porque, realmente, o que impera,

É a dúvida, o medo, o receio.

E o seu sentimento e decisão

Que um dia nos garantia

Mas que já não mais é capaz

De ser suficiente para ser raiz.

Mas folha seca que, já desprendida ao vento,

Ao relento,

Não sabe mais

Quando, e se, e onde,

Você irá se assentar!

Queria, de coração,

Que ficasse ou que abrisse.

Porque você, enfim, para mim,

É como esta folha seca.

E eu já não sei mais

Se, ao cair,

Eu sou

O seu destino.