Chorei, mas não entendi o porquê
Ouvi uma música - daquelas conhecidamente bregas e românticas ao extremo - e lembrei de ti. Dizia algo sobre como você pode beijar um milhão de bocas, sentir outros corpos te tocando, mas que ainda assim vai se lembrar de mim até no toque do teu telefone.
Eu já conhecia a música, por óbvio. Acho que é quase um hino nacional. Só não havia associado a nada. Nem a ninguém. Foi então que eu me lembrei de como nós ríamos quando criamos um toque todo personalizado pro teu celular. Doeu o peito, um ano depois, saber que o toque ainda permanece o mesmo, mas nós não.
Não sei se a ti ainda faz lembrar, o toque, de mim. O do telefone e o de nossas peles. A mim? Muito. E eu percebi isso quando beijei outra boca pela primeira vez. Quando despi e toquei outro corpo pela primeira vez. Quando disse que queria conhecer um novo alguém pela primeira vez. Quando entendi que, mais do que querer, era preciso poder te esquecer. Eu queria, mas não podia. Devia, mas não conseguia. Tentava, mas não esquecia. E eu chorei sem entender o porquê pela primeira vez. Acho que foi desespero. Talvez a sensação de sufoco. Não sei. E também não importa mais.
Senti saudade do teu toque. Do telefone, mas muito mais do toque da tua pele. Do arrepio que me causava tua unha riscando meu corpo. Da tua mão entrelaçando a minha. Da certeza. Da tua boca, na parte inferior da minha orelha, dizendo que me amava. De você me beijando testa, nariz e sorriso quando entendeu que eu também te amava. E, sem razão, eu chorei pela segunda vez.
Tudo isso faz falta, é verdade. E acho que é por isso que, mesmo querendo, ainda não posso te esquecer. E quando penso em nós, eu não sei, acho que alguma coisa me sugere que o fim foi por demasiado prematuro... Pra mim. E só pra mim.
Caminho pelas calçadas como quem sabe o que faz. Eu não sei. Mas tomo as vestes da estrada pra tentar esquecer ou, quem sabe, encontrar um novo rumo. Conto os dias que faltam para chegar o dia que eu ainda não sei qual é. Ouço, no rádio, aquela música velha, que todos sabem cantar e até então, eu não via problema. Dessa vez, eu lembro de você de novo. Entendi que a associação criou novos fantasmas. E mesmo que eu tenha parado de repetir teu toque em minha mente, mais uma vez, eu choro sem saber bem o porquê.