Aquela velha dor
Acho mesmo que essa velha dor no peito ninguém mais tira.
Foi como se eu tivesse fechado os olhos pro mundo e o mundo pra mim. Não existia nada que pudesse me fazer crer que o amanhã seria melhor. Nem mesmo a mudança de ano - a pôr esperança no coração dos tontos -; nem mesmo as palavras de um futuro bom; nem mesmo os contos de amor e desamor; nem mesmo os meus contos de amor e desamor. O mundo andava por completo desalinhado e eu acho mesmo que essa velha dor no peito ninguém mais tira.
Eu amargurei. Deve ter começado de dentro pra fora. Eu não sei. Talvez nem lembre direito o dia exato do cheque-mate da minha felicidade, mas sei que tem muito a ver com você e tua traição. Eu amargurei, mas talvez tenha sido melhor assim. É que hoje eu não espero nada mais do mundo e mundo também não espera de mim. A vida perdeu a graça e eu acho mesmo que essa velha dor no peito ninguém mais tira.
Implorei para ser infarto. Queria eu tê-lo fulminante - sem chance de reversão. Queria eu sentir outra dor no peito que não aquela velha. Eu não tive escolhe, entende? Eu fechei os olhos - duas ou mais vezes - para os erros do mundo e o mundo, meu bem, me cobrou pela ingenuidade. Eu sangrei em teu nome e as minhas feridas você quis cutucar. Uma por uma. Todas e cada uma delas. Nem Tomé foi tão cruel à segunda pessoa da santíssima trindade como você a mim e eu acho mesmo que essa velha dor no peito ninguém mais tira.
Eles me disseram que era assim mesmo. Que todo amor começa pela cura, mas termina com a dor. E que o fim de um grande amor dói, mas passa. Que logo eu estaria curado de novo. E depois, talvez, doído de novo. E que o ciclo se repetiria até o fim dos tempos. Eles me falaram de amor como se eu não o conhecesse. Como se eu não o tivesse vivido. Me poupem, vocês, dessas imundícies que me botam goela abaixo. Eu já amei outras vezes, eu sei, mas pela primeira vez, não quero amar nunca mais. E acho mesmo que essa velha dor no peito ninguém mais tira