Jornada rumo à sabedoria
A vigésima terceira máxima délfica, que compõe os cânones de Apolo, juntamente com outros 146 ensinamentos, afirma de modo veemente: “anseie pela sabedoria”. Ao invés de uma recompensa final pelo esforço, uma consequência ou um produto meramente substancial entremeado por uma mentalidade materialista, a busca pela sabedoria deveria ser definida como um caminho permanente, uma trajetória, um modo de viver seguindo os preceitos virtuosos. O saber deve consistir na própria ação de ir em um busca de um ideal humano mais elevado. Se a verdade absoluta existir, poderia ela ser uma criação subjetiva? Se a máxima socrática é “Conhece-te a ti mesmo e assim conhecerás Deus e o Universo”, a significação dessa sentença alude a um fator interno e intrínseco ao humano. A verdade é una, imutável, e o caminho para se chegar até ela está calcado na objetividade. Mas para conhecermo-nos, é preciso caminharmos por camadas de subjetividade e meandros de internalização, pois esse é o caminho. Além disso, não somos a verdade, somos ainda seres imperfeitos que devem descobrir o que são e se são, caso contrário, encararíamos a sordidez de uma vida insuficiente. É fundamental respeitar-se e respeitar sua jornada, sem pular degraus e aprendendo em cada passo em falso e em cada andar certeiro. Nem sempre o topo será o fim da linha, por vezes ele representa apenas a metade do caminho, visto que a descida ainda está por vir. Ela nem sempre está alegoricamente associada a um declínio espiritual, às vezes é parte da jornada. Semelhante ao retorno de Platão em busca da divulgação do mundo das ideias aos prisioneiros da caverna sensível do sombreado mundo das percepções, sem se deixar diminuir por retornar, mas com uma finalidade nobre
de difusão da razão e do conhecimento verdadeiro. Sempre existe um degrau a mais para ser galgado, embora isso não signifique que jamais alcançaremos a verdade plena.