O QUE APRENDI COM OS ANOS

Perdida em mim, 03 de dezembro de 2020.

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Os anos

Aos 18 continuei criança ingênua sem pressa para crescer.

Continuei querendo assistir desenhos, desejar príncipe encantado, amigos de escola para sempre.

Continuei na vida de sempre, confortável, tranquila, feliz e apaixonada.

Aos 19 tudo que era seguro mudou. O conhecido não existia mais e tudo que eu cresci aprendendo como certo perdeu o sentido.

Nessa idade foi a primeira vez que me perdi, fechei os olhos e deixei ser puxada para qualquer lugar que me desse uma noção de lar, de amor, de carinho, de aprovação.

Anos mais tarde eu entendi que estava tomando as decisões erradas.

Aos 20, vivi de verdade, mesmo com tudo que conheci desmoronando, segui querendo enxergar o melhor, querendo o melhor, batalhando todos os dias pelo melhor.

Foi nessa fase que eu fechei mais ainda os olhos para tudo o que acontecia em volta e me leva por caminhos estranhos.

Aos 21 consegui me adaptar a vida nova que eu tinha, me senti feliz algumas vezes na semana e a rotina ficou confortável, embora um dia fosse mais complicado que outro, a fé continuou dominante, e eu me esforcei para conseguir acreditar que daria tudo certo, que ficaria tudo bem, e cada dia mais eu dava o meu melhor para ter o melhor, sem nem perceber que o “meu melhor” era sugado a todo instante, ao passo que eu me senti cada vez mais inútil, mais impotente. Continuei de olhos fechados e indo, só indo, sem questionar, argumentar ou dar a minha opinião, sem dizer não, so indo, querendo ser feliz.

Anos depois eu entendi que a ideia de felicidade que eu tinha, sendo tão inerte e passiva nunca, jamais foi ou é o certo pra mim

Aos 22 algo me disse que não estava certo, mas eu queria que estivesse certo, por isso fiz de conta que estava. Enquanto algo berrava dentro de mim avisando que não precisava ser assim, eu aquietava a minha intuição, minha esperança que algo melhor ainda viria me manteve firme nos meus enganos. O que eu entendi como felicidade naqueles dias me fizeram ficar sem recutar um centímetro sequer.

Aos 23 abandonei sonhos e percebi que buscava o “melhor” errado. Pensei que como não doía, estava tudo certo, mas no final das contas, o que aconteceu é que eu não me permitia sentir a dor, então dava um jeito de me fazer acreditar que estava tudo certo comigo, com o mundo e com o lugar que eu tinha arranjado dentro do mundo. Quando entrava cada vez mais no caos, no falso feliz.

Aos 24 abri os olhos para o mundo ao redor de mim. A ficha caiu. O mundo não acabava no portão daquela casa, eu me prendi porque queria pensar que o sentimento que eu tinha era felicidade, que poderia ser grande o suficiente para me proteger do mundo que parecia cada vez mais ruim. Mais ruim porque sem perceber comecei a mexer na minha dor, e busquei entender o porquê de doer tanto. E nessa idade eu descobri, mas foi mais confortável fazer de conta que estava bem, me fechando no “meu bem” para acreditar que estava mesmo.

Aos 25 mudei a minha vida. Honestamente não sabia o que buscar ou o que esperar, mas eu tinha certeza que não queria mais estar naquela situação que me deixava cada vez mais triste, mais paranoica, com mais medo, mais inútil. Não querer estar naquela situação me fez saber que eu não precisava estar, então eu sai. Não quando as pessoas acharam que eu deveria, mas quando eu me senti feliz com a minha decisão de mudar.

Me senti perdia no mundo, sem saber como andar na rua ou o que falar. Sem conhecer meus gostos, meus hobbies, minha comida preferida. Sair da caixinha nunca é fácil, dói, incomoda, assusta, faz rever a vida e as escolhas, pensar no que poderia ter sido diferente e não foi por receio.

Passo a passo fui aprendendo como lidar comigo mesma. Aprendendo todos os dias como me fazer feliz, me fazer sorris, adquirir as coisas pra mim, corta o cabelo porque eu queria cortar, falar com os amigos porque me fazia bem e não com medo de que estivesse fazendo algo errado. Aprendi a não usar só preto, só bota, só cabelo preso. Entendi que os caminhos se abrem quando a gente se abre também, tudo nessa vida é uma via de mão dupla, as coisas acontecem se você permitir, tanto boas como ruins. E eu permiti os dois nos últimos anos, hoje eu sei disso.

Aos 26 descobri que sou só minha, e não tem nada de errado com isso, percebi que não tenho mais medo disso, aliás, se tivesse me colocado em primeiro lugar mais cedo, não precisaria me montar agora.

Descobri novos sonhos, comecei a fazer planos, coisas que nem lembrava mais como se fazia, e nem como faz bem!

Descobri que a “verdade” dos 20 anos não é tão verdade assim. O que eu tinha como certo hoje depende do ponto de vista. Que apesar de alguns comportamentos serem parecidos as pessoas são diferentes, e como é bom que é dessa forma. Pois assim possibilita escolhas diferentes, fins diferentes e talvez nem exista um fim.

Ouvir mais, julgar menos, encerrar ciclos e começar novos. Entendo o significado de “tem coisas que só você pode fazer por você”, nesse ano eu entendi mesmo, não dá para depender de outras pessoas para sempre, mas também não dá para me fechar ao ponto de pensar, mais uma vez, que consigo resolver tudo sozinha, quem dera ser a mulher maravilha, mas não funciona dessa forma.

Aos 27 quero continuar aprendendo e querendo que as outras pessoas aprendam comigo também. Me conhecer melhor, mexer em pensamentos que ainda silencio, encarrar a vida de peito aberto, sem tanto receio assim. Aprender que ver o lado bom das coisas nem sempre ajuda e na maioria das vezes não resolve, mas me deixa na superfície e não no caos.

Continuar vivendo simples e feliz, sem destruir ninguém em volta ou me destruir no processo. Conhecer a felicidade de verdade.

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Bebels
Enviado por Bebels em 05/12/2020
Código do texto: T7128285
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