Do poema de amor
Ouvi um poema que falava sobre a revoada dos pássaros no verão;
e que falava de como os leões rugem raivosos aos céus quando descobrem que seus focinhos são iguais;
e que falava do vermelho amor que há no sangue;
e que falava sobre as noites nos hotéis baratos em Copacabana.
Ouvi um poema que falava de amor;
e que falava de como são bonitos os dias enquanto se ama;
e que falava do acelerar do coração quando se vê, pela primeira vez, o amor chegando;
e que falava de tudo, menos teu nome.
Aprendi que o amor não precisa de medida ou padrão para funcionar bem. E que estar nos padrões, na verdade, não garante ao amor ideia nenhuma de continuidade. E a prova viva disso somos nós, meu bem.
Aprendi também que amar é muito mais próximo do poder do que do querer. Olha cá nos olhos: eu quis tanto amar, mas eu não pude ou não soube fazê-lo. Não me resta coisa outra senão o querer.
Acho que amor é um pouco disso mesmo. Dessa coisa toda de vai e vem. O amor é uma ressaca. Não tem lá seu quê de mercúrio, como me diziam as poetisas. É muito menos volátil. Nem chama atenção como as luzes da cidade de neon. Tudo é breu e o buraco negro sou eu.