Intensidade

Descobri que não sei ser morna, sou um café fumegante, escuro, ranzinza e abafado, sem leite para diluir meus remorsos e sem açúcar para adoçar minhas incertezas. Ou sou inverno, ou sou verão, jamais primavera; ou sou o inferno ou sou o céu, jamais a Terra; ou sou tudo, ou nada sou, não me existe meio termo, meio sorriso, meia luta, meia vida. Sou instante desdito, radioativa sem tempo para decair antes que eu me levante, queimo em qualquer tropeço, e a fogueira em que ardo, esta eu mesmo acendo com as fagulhas do meu ser que explode sem cessar, essas chamas fazem morada em minhas profundezas, parasitam meus sonhos mais viscerais, me consomem, me rasgam e me dilaceram, mas me animam e me vivificam. Se a vida é intensa, então que possamos afugentá-la com as mesmas forças que ela uniu para nos arrebentar uma vez, ou então, que saibamos dançar conforme as melodias que ela ecoa em forma de paixões fatais.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 09/03/2020
Reeditado em 30/10/2021
Código do texto: T6884191
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