Que lindos olhos tens...

 
Ao falarmos de hereditariedade, essencialmente, haveremos de nos apoiar em bases científicas, que nenhuma licença concedem à vaidade, e nem mesmo à gratidão.
 
A aspereza desse preâmbulo não lhe aniquila o senso de justiça! Senão, vejamos:
Em boa hora, pois debaixo da luz de um brilhante Sol, de início, consideremos isto: nossos antepassados fundaram a sociedade que hoje nos sustenta, logo, em circunstâncias que clamam por justiça, é de nossa obrigação prestar a eles algum tributo póstumo, pois pelos seus feitos no passado, o nosso presente é sustentado, e quiçá, hão de garantir o nosso futuro.
Quanto ao agradecimento pelas contribuições diretas e biológicas, que nos legaram os nossos ascendentes — aqueles que formaram a nossa árvore genealógica — se têm algum valor, encontra-se nos limites do saudosismo que se manifesta através de nossos relatados atribuídos a eles, portanto, não devem eles ultrapassar as extremas da nossa vaidade...
Se essa afirmação é áspera, suave é a sua justificada dela, pelo exposto abaixo.
A cor dos olhos que tens, não fora escolhida pelos teus pais, com a intenção de te oferecerem de presente por tão linda que é, nem tampouco, tu a pediste; tão somente, um destino amável, quando não, uma afável ocorrência, ao te voltar os seus bons olhos, aos teus, concedeu a cor que têm eles; a ser assim, por todas as cores de olhos que há, te pergunto, ou antes, afirmo-te, pois: não desejo ver de forma distinta, a cor dos teus olhos, porém, é possível que tu vejas nos meus, alguma cor, logo, a certeza que tenho sobre a cor castanha dos meus olhos, não haverá de ser menor que dúvida que desejo preservar sobre a cor dos teus, ainda assim, tenho esta convicção cristalina:
Que lindos olhos tens!
Por ser assim, vejamos juntos estas interrogações:
O que de mais verde veem no mar, os teus olhos azuis que de menos veem os meus castanhos?
Ou o que de mais azul veem no céu, os teus olhos verdes que de menos veem os meus castanhos?
Finalmente, que cor diferente podem ter os meus olhos castanhos, para que os teus os vejam melhor? 
Por essas três indagações, vejamos tu e eu, em uma única resposta o que haverá de nos convencer:
O ver a cor do Mar, o ver a cor do Céu, o ver a cor dos olhos de alguém, ou o ver quaisquer cores, não dependem da cor dos nossos olhos, dependerem tão somente da cor da nossa alma, assim sobre o que há entre as profundezas dos Mares e os limites dos Céus, não há cor de olhos que possa ver melhor em detrimento das demais outras...
Agora vejamos o que todos hão de ver: os nossos genitores, naturalmente, transportaram os genes que ao se encontrarem aleatoriamente ou por desígnio pessoal de Deus, deram aos nossos olhos, uma cor única resultante dessa tão formidável combinação. Esse exemplo reflete apenas um caráter genético que se manifesta de maneira objetiva inteiramente livre do nosso desejo e alheio à vontade de nossos pais.
De outra maneira, que na sua essência em nada difere desse parágrafo anterior, digo que entre aqueles exemplos — o dos olhos verdes, que outra cor poderiam ter — de feito, dá testemunho de fatos objetivos herdados de forma — apenas aparente — desvinculados de quaisquer regras, logo, sem nenhuma satisfação dar aos ditames matemáticos...
Com teus lindos olhos que podem ser desta ou daquela cor, vê todas as cores desta conclusão:
A consciência e compreensão da herança dos caracteres genéticos subjetivos são importantes tanto quanto o são as concebidas aos caracteres objetivos, pois, longe dos nossos olhos, aqueles não nos chamam a atenção, contudo, por serem reais e determinantes à nossa essência, hão de ter semelhante valor ao atribuído aos abjetivos. Sem nos atermos ao mérito desse fenômeno inefável, ou seja, dessa maravilhosíssima transmissão dos caracteres genéticos, ainda assim, com segurança, podemos concluir que o nosso passado importa pouco, o que mais vale é o nosso presente, pois nesse momento, temos a prerrogativa de deixarmos indeléveis nossos rastros que apagados não serão no futuro. Isto tão bem feito fizeram alguns dos nossos ascendentes, outros nem tanto...
Assim, cada um de nós pode dizer:
Por ser o ente humano que sou, ser digno de algum mérito, posso até me tornar, mas do caráter que o determinou jamais devo me orgulhar, logo, por ser esta ou aquela a cor dos meus olhos, nenhum elogio devo receber; por equivalência de raciocínio, contudo no sentido inverso, afirmo que não há quem possa me impingir nenhuma culpa pela cor dos olhos que tenho; por tudo isso, é possível com os olhos do entendimento, estender o olhar e ver que nenhum ente humano é passível de quaisquer condenações, uma vez que todo o seu patrimônio genético a ele não pertence, pois, dos seus pais, ele não o herdou, visto que esses dele não tinha posse, uma vez que, todos os genitores são meros depositários e transportadores de um grande tesouro que pertence à espécie sapiens sapiens, logo, com prudência, devemos transportá-lo, e com sabedoria, com outrem, devemos dividi-lo...





















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Eugene Garrett
Enviado por Eugene Garrett em 18/01/2020
Reeditado em 18/01/2020
Código do texto: T6844793
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