Imponência e Dor
Sob as mãos firmes de Hipnos, adormeço tranquilo
nos minutos que se seguem. Morfeu me insere num
mundo repleto de fantasias, aventuras... Sou
imponente em muitos percursos e me deparo
mesmo assim com as situações mais complexas.
É tão nítido o que vislumbro em um segundo e
logo adiante um oceano turvo quase me devora.
Saio ileso como de costume, pois voo em velocidade
absurda sobre suas águas. Permaneço assim por
algumas horas. A Lua cheia desponta como uma
deusa próxima a Júpiter. E cá estou, numa calçada
à beira de um antigo edifício.
Algo estranho parece me chamar. Não sei decifrar
os códigos que a cada momento são enviados a
mim. Vejo-os nas paredes do porão, no assoalho
da sala, nos Astros mais luminosos... Eu sei que
não estou aqui na realidade. Eu sei que nada pode
me ferir de forma vital. Mas pressinto que a minha
vivência nessas Terras do desconhecido, pode
servir para algo que realmente valha a pena. Não
me recordo de alguma lágrima que tentou sair dos
meus olhos. Não consegui ainda sentir impotência
perante qualquer situação. Mas há dor. E essa dor
consegue me dilacerar de forma instantânea. Fico
de mãos atadas quando ela vem e tão logo se vai.
Tantos rostos estão presentes por aqui. E a maioria
não se faz visível. Eu converso, ando junto, mas
não consigo visualizar com clareza suas faces. O
que serão? Almas, anjos, demônios... talvez seres
de sistemas longínquos. Não há luz do Sol nesses
muitos anos que se passaram. Me pergunto o
porquê disso. É um recanto escuro, sombrio... A
morte aqui parece não ter chance. E talvez nem a vida.
O que permeia o pensamento é a certeza que nada
pode dar errado. Pelo menos fisicamente. As tantas
experiências comprovam o que escrevo. Em
contrapartida, em meio a essa imponência, há uma
força estranha e misteriosa que faz de tudo para
me deixar à vontade por aqui. Mas esse “à vontade”
é muito relativo. Tenho pressa pra tentar compreender
o que pode estar acontecendo. Há pistas por alguns
dias mas não chego a lugar algum. Existem multidões
por aqui mas a interação é quase nula. Será que
essas pessoas estão presas assim como eu?