"QUEM DE FATO SOMOS"

Antes, levado pela infância, eu via tudo bonito, colorido e as pessoas se cumprimentavam com sorriso largo, e não era por obrigação mas sim por respeito e muito carinho. As pessoas se preocupavam mais com as outras e respeitavam esses limites entre até onde uma piada um comentário poderia ser levado, desde que obviamente não ferisse (e nunca feria) a conduta e tampouco o comportamento de alguém.

O que será que aconteceu com o mundo, e com as pessoas? Se fosse para ver o que hoje vejo, quem dera nunca ter crescido quiçá até aqui vivido para ver de perto o que o SER fez com o seu lado HUMANO.

Evoluímos para o caos, ou essa já seria a tendência pré-anunciada, face ao comportamento dos tempos primeiros quando Caim tirou a vida do seu próprio irmão?

Como estaria o mundo se ainda víssemos as pessoas se cumprimentando com preocupação e respeito?

Porque nos tornamos tão egoístas, frios descrentes nas tradições, no respeito as nossas religiões, onde Deus exercia em nossas vidas uma proteção inseparável, e porque nos separamos tanto de Deus a ponto de negligenciarmos até o seu existir?

Em que tipo de seres nos tornamos, porque esfriou tanto o amor nas nossas almas forçando os valores morais a serem descartados e vistos com tamanha promiscuidade?

Onde foram parar nossa sensibilidade, e aquele olhar amoroso de preocupação com o nosso semelhante?

A politica veio, a corrupção veio a tona (APESAR DE TER SEMPRE EXISTIDO) e o que aconteceu com tudo isso? Uma onda de ódio se apoderou dos corações das pessoas, principalmente daqueles que empunhavam uma bandeira partidária, ou do outro que acabara perdendo certos confortos e privilégios, fazendo-os acostumados com a mansa vida enquanto outros ralhavam sob o castigante sol da serventia como verdadeiros serviçais de um poder que ruía aos pés de quem o acompanhava. Pobres proletários, empunhadores de sonhos gritantes que hoje ecoa na sombra do grito, a mudez desse gritar sem eco que já não verberiza como antes.

O mundo se perdeu em faturas, receitas, elevação de coisas, enquanto que o caráter, foi sufocado pela lama dos descasos e da impunidade que faz com que os rejeitos encubram peles e ossos de quem só queria sobreviver.

Calam vozes na noite, daquela que gritava e que era a voz da favela, do gueto e de um povo que já não sabia mais a quem gritar.

Outros, largam suas pastas e correm apressados para fora do país, por medo de terminar como a moça que gritava a voz da favela.

Em que nos tornamos, quem de fato somos, em meio a fumaça que sobe e queima alojamentos e alojados que carregavam sonhos do tapete verde para defender a rubra negra cor de tantos sonhos a conquistar?

De quem é a culpa dessa transformação, ou dessa mutação humana que nada mais é do que uma MASSA DE MANOBRA, sem curvas e sem volta?

Um dia, sonhei pequeno pois eu era pequeno, hoje, já crescido, quisera-me encolher a ponto de voltar a ser tão miúdo para não precisar preocupar-me com essas coisas.

Carlos Silva