Gotas de Prosperidade
Num país como o Brasil, onde terra sobra e água jorra, fome é sinônimo de vagabundice. Isso mesmo: vagabundice, foi o que eu disse.
Plante um bago milho, um toco de mandioca, um olho de cana, que em pouco tempo, o milagre irá quintuplicar. E de toco em toco, grão em grão, o paiol vai entulhar. Se não tem pão e vinho sobre a mesa, faça da mandioca; farinha; e do milho, fubá, para a prole alimentar. Mas antes, levante da cama preguiçoso e vá trabalhar, para Deus ajudar.
No milho e no aipim, encontram-se amido puro. Na cana, sacarose e juntos, combinados e misturados, para dar, emprestar e vender, no bolo ou no suco, energia virá. Ganharás tanta resistência para a enxada malhar, as ervas destocar e enduro de cavalo na caatinga, superar.
Os pés descalços clamam por terra, tanto quanto os passos por estradas; bem como as mãos pela operosidade. Trabalhai, trabalhai-vos e prosperai. Ouça o chamado e atendeis o apelo. Semeais e da cultura semeada, colherás o resultado.
Agora não, cruzam os braços; amarram as pernas; cegam os olho e deitam a língua a falar; quando silenciam, abismados porque não sairam do lugar, olham para o ocaso, esperando o céu lacrimejar. Culpam desemprego, o vento, o sol torrando, a rachadura da cacimba, o filtro empoeirado, a calça rasgada, a foice cega, a enxada sem cabo, as alpercatas sem as tiras, a vegetação, o bode velho que não morre, a mudez da teta da cabrita, que dizem que uns sim, outros não apareceram por lá.
Tenho viajo para o sertão do país, e por lá, nenhum um pé de passarinho ciscando a terra, nada de horta em talos, em compensação, sossego como em Brasília, estendendo até cá. O se plantá dá, se não plantá dão, então não planto, não; em cada quintal, em cada casa, é o dono da razão. Heresia ao suor de ganhar o grão e a folha de cada de refeição, naquele povo, há em demasia.
Indolência e sadadeza, Deus me livre desse pecado. Aliás, perco tempo escrevendo para o Recanto, se é a força da prosperidade do trabalho, minha oração em poesia, meu encanto.
E o meu medo maior é o espelho se quebrar.