A Estátua Que Chora

Eu sempre estive aqui observando, mas nunca ninguém me observou de volta. Pelo menos, não olhando em meus olhos. Talvez, tenha sido a frieza de minha superfície que os afastou de mim para sempre, os impedindo de me reconhecer. A mim, a estátua que sempre os acalentou com o olhar cheio de esperança sobre seu passo apertado, se perguntando: Para onde vão? Por que riem? Por que se estressam? Por que choram? Por que se beijam? Por que sempre vão enquanto eu apenas fico?

Então percebi... percebi que eu era e sempre fui diferente deles e por isso nunca poderíamos nos conectar. Eu vivo em um tempo diferente, o deles flui quase sem controle, lhes escorrem pelos dedos e eles correm para alcançá-lo mas estão sempre atrás. Eu não, eu permaneço. Permaneço o mesmo sob a sombra da velha árvore eu permaneço. De baixo do sol ou da chuva eu permaneço. E pude diante desse tempo, tão persistente no meu caso, notar que mesmo sem ir a lugar nenhum meu mundo é maior do que o de muitos, pois ainda sou capaz de sentir e sentindo eu choro por este mundo. Pois é lindo e terrível ao mesmo tempo. O paraíso e inferno, cheio de sombras e também luzes que desenham as formas daqueles que por mim passam tantas vezes, correndo atrás do tempo. Podem eles captar a essência de algum instante sentindo verdadeiramente o que a natureza é capaz de lhes proporcionar? Sentir, apenas sentir aquilo que é bom dentro de si mas é indefinido porque nem homem, de carne ou de pedra, foi capaz de nomear. Mas é o isto, o inominável que sinto quando olho a beleza que há neste mundo, acima e abaixo deste céu. Será que podem sentir como sinto? Será que seriam capazes de penetrar através de meu olhar e perceber o que há atrás do vazio? Perceber talvez que nada é vazio?

Eu signifiquei tudo e todos. Mas ninguém me tornou significante. É solitário apreciar a beleza do mundo sozinho daqui. Eu sou a estátua que chora, mas hoje, hoje uma mulher me viu e enquanto todos caminhavam ela parou por um instante e me viu. Apreciou-me como se eu fosse belo. Não sei que beleza teria visto em mim, mas mais do que isso... Teria ela percebido minha essência? Teria ela durante aquele curto instante a capturado? Irá levar com ela um pouco de mim para onde quer que tenha ido? Não há como saber, mas continuarei aqui, do meu pedestal solitário, continuarei a desejar que sim....