O Valor que Se Busca

Talvez a necessidade de reconhecimento, de qualquer tipo que for, seja fruto da falta de percepção de si.

Talvez, essa satisfação através do olhar do outro, não importando quem seja, se trate principalmente da incapacidade de compreender o próprio valor. Pois, o valor de alguém é um status que só se aplica quando o outro também é capaz de atribuí-lo. Por isso, estamos todos competindo em algum nível pelas atenções e buscando através de terceitos a satisfação do existir. Como se somente dessa maneira pudessemos ser capazes de comprovar nossa existência.

No entanto, pode o outro realmente nos enxergar?

Provavalmente não. Estamos todos sozinhos desde sempre e cada indivíduo é singular, pois sua existência se trata de uma perspectiva sobre o mundo que se dá dentro de cada exato instante em que a experiência pessoal torna possível o pensamento. E parafraseando agora Carl Sagan, dois humanos mesmo que sejam gêmeos idênticos, nunca poderão ser iguais de fato, já que em seus cérebros milhares de sinapses ocorrem, levando a diferentes estados cerebrais possíveis e que contabilizam mais do que o número total partículas elementares existentes no universo. E isso faria de cada um de nós, um ser especialmente único.

Portanto, ninguém pode realmente enxergar o outro e saber como sente, como pensa, ou atribuír-lhe determinado valor.

Porém, ainda que concordemos com este pensamento, em realidade ele, geralmente, não é capaz de proporcionar o mesmo prazer que a ilusão de receber o olhar do outro proporciona. Todos querem fantasiar uma história em que são atores ou atrizes principais, mas enquanto todos querem atuar ao mesmo tempo não há espaço para ninguém e a vida com sua cruel realidade apenas segue, com cada ator aplaudindo a si próprio apenas e sendo sua única e mais real platéia. Porque, além de ninguém ser capaz de enxergar o outro pois cada um contém um indesvendável universo dentro de si, também somos incapazes de ir além da nossa própria perspectiva e tudo o que produzimos sobre o outro se tratará apenas de nós mesmos refletindo-se sobre ele, como afirmou uma vez Ricardo Goldenberg sob a ótica do pensamento freudiano.

Mais uma vez, talvez, só talvez a chave esteja em aprender a compreender a si antes de tentar entender o resto e se satisfazer diante desse entendimento ao qual se chega e que é capaz de construir a identidade. Mas compreender a si é mais do que se observar apenas diante do mais positivo ou negativo ponto de vista e sim mergulhar no profundo questionamento e sinseridade consigo. Talvez, somente quanto aprendermos a navegar no universo dentro de nós é que iremos encontrar a plena satisfação e utilizar o outro, não para termos a ilusão de que nos conhecemos e sabemos nosso exato valor de acorso com o que ele atribui (e que se trata somente dele mesmo), mas sim, para que possamos através dele contrastar com diferentes perspectivas que ajudarão a criar essa indivudualidade e nela firmar a autosatisfação.