Poder e Autoridade
O cristão procura ter autoridade, mas não necessariamente o poder. Autoridade, aqui, é entendida no seu sentido próprio auctoritas, de onde deriva a palavra autor do verbo latino augere (fazer crescer). Assim, ter autoridade é possuir a capacidade de fazer crescer. Esta capacidade não deriva da força física ou jurídica, mas tão somente da força moral. Quem possui autoridade é capaz de fazer o outro se mover na direção desejada, não se impondo por meio da força, mas sim, pela atração moral que exerce. A pessoa de autoridade pode até não ser investida de poder físico ou jurídico mas ela se impõe pela firmeza de seu caráter. A sua autoridade brota da coerência de vida. O seu falar e o seu agir são uníssonos. Neles, não se encontra contradição. A pessoa de autoridade é aquilo que ela fala.
Por sua vez, a palavra poder, de onde deriva potestas, tem sua origem na palavra latina "possum" (ser capaz de) que implica em posse. O poder, assim, seria a capacidade de mandar e deliberar acerca de algo. A sua ideia está vinculada a força física ou jurídica. Daí os antigos dizerem: "manda quem pode obedece quem tem juízo". O poder não está necessariamente vinculado ao caráter ilibado da pessoa. Esta, inclusive, pode exercer o poder e não possuir autoridade. Quem tem poder se impõe, manda. Quem possui autoridade atrai e convence. Quem age pelo poder se vale do medo. Quem age com autoridade gera confiança e ânimo. O cristão não precisa de poder para agir e fazer o bem. O poder pode até existir, mas não é necessário. Quem caminha em Jesus Cristo precisa, sim, ter autoridade. Ser capaz de fazer o outro crescer. O cristão deve procurar ser referência para o outro. A sua força não exige imposição, mas sim atração. O bem atrai por si mesmo. O mal, quando descoberto, causa repulsa.
Jesus, em sua pregação e em seus gestos, embora tenha poder, prefere fazer-se valer de sua autoridade. A sua força reside na concordância entre o que faz e aquilo que fala. É isso que causa espanto e admiração em seus espectadores. A novidade dos seus ensinamentos está na sua coerência ou autenticidade, para usar uma linguagem nietzschiana. O jeito de ser de Jesus Cristo, aliado a sua fala, faz com que todos a sua volta cresçam e o mal, por si mesmo, seja exorcizado. Assim também deve ser o cristão. Este, devido a sua coerência de vida, espanta o mal à sua volta e atrai as pessoas para Deus.