O mundo através da Janela

Ao olhar pela janela da condução que subia o viaduto, vi o céu tremendamente claro em nuvens brancas, tão imenso e expansivo. Era maior do que por exemplo, todas as emoções que poderiam caber em uma pessoa só. Indescritível...

Fui tomada por aquela conhecida sensação de infimidade, em relação ao todo. E enquanto a viagem seguia, ao longo da subida revelava-se cada vez mais a grandeza daquele rico céu, mas também, a triste e pobre cidade abaixo dele.

Os humanos são incapazes de perceber sua própria pequenez, porque nos propomos a nos esquecermos dela. Percebi isso, ao reparar naquelas casinhas, e como a vida das pessoas era reduzida à estas e às suas próprias coisas, sem nunca perceberem o céu acima de suas cabeças, pois os corredores de cimento em que habitam, limitam sua visão. Então, notei que todas as coisas humanas são projetadas para o conforto e pequenez humana, para que possam se sentir mais adequados e proporcionais diante da imensidão na qual estão imersos.

E assim foram-se os dias para nós, a humanidade... vivenciados como se o sol girasse ao nosso redor, assim como o restante do universo. Como se a vida de cada pessoa e cada acontecimento, se desenrolassem em torno do indivíduo que observa. Quando na verdade, as pessoas são nada mais do que um detalhe na paisagem, assim como tornam aquelas coisas as quais não dão importância.

Todas as coisas que construíram e destruíram, os humanos as fizeram para que a realidade se adequasse a eles. Reduziu-se tudo a algo que pudesse ser consumido e usado. E em consequência, todas as coisas ao redor foram padronizadas: as casas, as ruas, as vidas... Com o objetivo de se tornar a realidade o mais fácil e palpável possível.

Tudo isso reduzido a nós mesmos, diante da nossa visão do que é bom e belo.

Em consequência, a própria natureza precisou se adequar a nós e não mais nós a ela, como era de costume desde quando a vida iniciou sua história.

Mas, quebrar o fluxo natural das coisas teria um preço. E a única coisa a sobrar para nos adequarmos, foi a nós mesmos e nossas angústias.

Angustia de quem se desconectou do todo, mas nunca conheceu sua própria origem. Angústia de quem queria muito aquilo que já tinha, e perdeu sem usufruir. Angústia de quem sofreu e fez sofrer por amor, mas no fim não aprendeu a amar. Angústias e mais angústias...

Qual é o preço de termos nos livrado da persistência da morte? Qual é o preço de termos atingido toda a potência científica? Qual é o preço do desenvolvimento?

Qual é o preço da invenção do eu? Qual é o meu e o seu preço?

Bem, a condução chegou ao destino...