O Duplo - Uma Alegoria Niilista
Sentado em seu quarto com a corda nas mãos, o filósofo exausto enfrentava seu lado obscuro.
Não suporto mais as dores que me afligem, aonde se escondem as motivações? Estariam elas enterradas junto ao tumulo de deus?
Disse o filósofo em um tom sereno, sozinho, naquele quarto abandonado, andando de um lado para o outro
― Então desista! O Que te impede de colocar a corda sobre o pescoço e se deleitar com a morte?
Diziam as vozes em sua mente
Cale-se!! Deve existir algum motivo, alguma razão, alguma circunstância para se viver. Algo tão solido, que as dores que afligem meu coração não me torne um escravo da melancolia
Gritou o filósofo arremessando a corda para longe
― Mas você não encontrou certo? Estas inexplicáveis dores te assombram desde a infância, e a muito tempo vem mentindo para si mesmo que isso ou aquilo é o que te mantem vivo. E agora? O que restou? Todos que você um dia amou não passam de cadáveres!
Disse a voz em um tom fino e calmo
Mas (...) eu ainda tenho os meus livros. O Que me diz sobre eles? Meus trabalhos serão lembrados para sempre!
Um filósofo não é útil vivo...
Dizia o Filósofo enquanto pegava uma de suas obras nas mãos, sentindo orgulho de si mesmo.
A voz doce, fala calmamente em seu ouvido
― O Que é a filosofia? Se não aforismos da mente de um grupo de primatas na fração de um ponto. Não seja egoísta, nós dois sabemos que um dia toda a realização da humanidade irá desaparecer no tempo
Com esse pensamento aonde iremos? Se todos pensarmos assim, todo o conhecimento da humanidade irá parar no tempo, o que sugere? Pensas que tem a resposta para tudo? Acha que morrer é a solução?
Disse o filósofo encarando o espelho
― Eu? Eu não posso sugerir nada, não se esqueça que está sozinho, sempre esteve, e assim morrerá! Chegou ao ponto de delirar e discutir consigo mesmo! Ainda acha que um homem louco gritando sozinho em um quarto vazio merece viver? Se tudo que tem de valor em sua vida patética são livros, eu é que te pergunto...
O Que sugere?
Não há nenhuma sugestão, nenhuma forma de resolver isso, a não ser no leito de morte.
― Então continue, vá em frente, coloque as cordas sobre seu pescoço e desista!
O Filósofo caminha até o canto do quarto, pega a corda, e a coloca sobre o seu pescoço
― Você nunca foi nada, nunca poderá ser nada, e este é o seu destino, morrer como um nada!
Cale-se...
Disse o filósofo em voz baixa, enquanto ajeitava a corda em seu pescoço. Ele então caminha até o espelho e o encara por alguns minutos...
― Há um intrínseco Niilismo em nossas vidas...
Disse a voz em sua mente, de maneira tão suave que a própria escuridão o abraçou
Essa não é a nossa primeira discussão, e não será a última...
Disse o filósofo ainda encarando o espelho com a corda no pescoço
― Então a dor passou não é? Flertar com a morte sempre cura as mais profundas feridas.
Passou (...) agora sinto a melancolia preenchendo todo o meu ser
― Talvez, o grande significado por trás da vida humana, seja simplesmente alimentar os vermes em nosso leito de morte.
Parte em ser Niilista, é compreender nosso lugar no cosmos. Nós não significamos nada, e a vida é repleta de dor e sofrimento.
O Niilismo, te entrega a chave do conhecimento para compreender esses fatos e seguir em frente, flertamos com o suicídio, mas não nos suicidamos, pois compreendemos a realidade ao nosso redor.