Camiseta Velha
Quando eu estou só, quando me sinto só, e cansado, da vida, do dia, e dos momentos, de cada instante,
Não há nada mais importante, nada mais reconfortante, que vestir, do fundo do guarda-roupas, aquela velha, surrada, amassada, camiseta velha...
Quando estou triste, pelo sofrimento da vida, em meu canto recolhido, não há linho, nem cetim, nem tampouco chique ou importada peça, ou cara ou de marca, para usar, que seja mais gostosa, e macia, e confortável e linda... que a minha camiseta velha.
Nos dias de calor, nos dias de frio, nos dias mornos... Nos dias bons, nos dias maus, daqueles infindos, nos dias indos, e também nos vindos... nada se espelha, sequer se aproxima, da minha camiseta velha...
Porque a vida vem e vai, os dias vêm e vão, a moda, as dores, as grifes, os açoites, os amigos, os parentes, os pais, os filhos, quando a fé falha, ou dela se afasta, minha casa, minha camiseta velha...
Não é bonita, ao contrário, amassada. Nem de estampas lindas, desbotada. Tampouco belas costuras, até furada. Mas é o que mais gosto de vestir. Porque me traz conforto nos dias desconfortáveis, prazer nos momentos vazios, aquecimento nos dias frios, frescor nos insuportáveis...
Mas o mais importante: acolhimento para a alma sofrida. Paz na vida estremecida, aconchego nos instantes solitários. Ela pode ser o meu cantinho que me resta, os dias que ainda possuo, as lembranças que não posso ver, o sofrimento que não mais quero ter.
As minhas coisas que não posso ver, e que não me podem também; um antigo pedaço físico de minha vida que não mais me é permitido adentrar. Um palmo sequer... Mas que sete deles certamente me acolherão quando me for. A incompreensão dos egoístas. A maldade dos humanos. A índole dos desumanos. Esta humanidade perdida!
Mas uma coisa aprendi neste mundo de dores e que canto para todos aqueles que quiserem aprender a viver: 'Não espere bondade das pessoas. Se algum dia ela vier, agradeça a Deus.' Mas não espere bondade. O Normal, infelizmente, é ela não vir! Eu não espero mais! Porque Sua criação é má. A índole das pessoas é má. E só pensa em si. e as dores e os problemas alheios estão na palavra fria: Alheios!
Mas há pessoas boas. Uma rara exceção. Como se uma exceção já não fosse rara!
Mas enquanto o tempo se passa, e a vida se esvai, eu não vou desistir dela. Eu desisti das pessoas. Mas da vida, não! Se você cai, riem. Se se machuca, passam e se vão, te deixando para trás. Cada um à sua própria sorte. Ou azar...
Enquanto isso, a minha velha camiseta eu visto, que é o que me resta de abrigo. Dentro de mim. E Deus. Tenho ali uma parceria que ainda me dá forças para continuar.
E, no dia final, não me vistam ternos. Nem gravatas, nem flores mortas. Porque estarei pra sempre vivo... pois não precisarei de adornos e joias, nem tampouco roupas mais: porque eu sou a minha preciosa, imutável e vívida vestimenta: a minha eterna camiseta velha! Ela sou eu...