Miopia Vivencial
Contextualização: Presenciamos um mundo tecnológico-desumano fugidio, veloz em direção ao futuro, o qual falta sentimentos aos mecânicos para repará-lo; ousadia aos mantenedores para pisar fundo no freio, reduzindo a velocidade à zero. A intolerância é uma doença contagiosa.
Anda, pára. Escreve. Anda, pára. Escreve. Nessa sua última parada repentina, ele vê um colibri acendendo o cachimbo no interior de uma flor; um lindo parreiral completamente coberto pela folhagem verde, com cachos e mais cachos de frutos secos; um elefante sem asas voando; um leão com uma juba espantosa arrastando no chão comendo formigas; escaravelhos dando cabeçadas em um pedaço de merda; grilos cheirando as tetarias de uma loba; um casal de humanos despudorados enroscados feito cipó em árvore, quase no estágio de orgasmo derradeiro em praça pública. Por ele passam mais, muito mais coisas, mas por fim, um mendigo com o corpo deitado no banco e a cabeça quase no chão. Tomado pelo ciúme, o que esse cidadão despreocupado vê, que a volúpia curiosa dos preocupados não enxerga?
Em suas miopias vivenciais, o escritor acha que sua escrita é o reflexo das incoerências. E o pior: para ele, quem escreve, não arreda pé delas de maneira alguma. Ademais, a prosa proseia ao pé do ouvido com as incoerências e são elas que tornam a vida coerente...; se não é isto, deve ser coisa da mente e dos olhos dos míopes!!