Devagações II
Experimentamos entregar as rédeas da vida nas mãos do nosso coração e descobrimos o quanto ele é anárquico e marginal. Um perigo constante. Caminhos até então nunca trilhados, sem placas de sinalização, sem semáforos. Seguindo desenfreado, sem rumo aparente, aos nossos olhos de pouco brilho, deixando o rastro do caos para aqueles que deixam a razão na condução. Estes, nos censuram. E chega uma hora que começamos a fraquejar diante do incômodo de tantos dedos apontados, de tantas lágrimas, de tantas sirenes em nosso encalço. Então, decidimos ou continuar na clandestinidade ao lado deste louco vermelho, ou tomar as rédeas de suas mãos e lhe impor regras de uso. Eis que cedemos a razão, ficando confortáveis sobre a luz do dia e sua calmaria de achar que tudo está seguindo um cronograma. Mas, sentimos falta da noite, das estradas sem limites e regras, dos becos escuros mas reveladores. Sentimos falta do caos.
A solução encontrada é paliativa. Nos permitimos, as vezes, entregar as rédeas novamente a ele, porém com hora e dia para retomar. E diariamente invejamos e criamos o veneno da censura ao ver aqueles que estão causando o caos dando de ombros a um mundo cheio de leis."