Para além dos Caminhos da Vida
Pensar... Passar... Volver... Findar...
E da vida sempre corri, quando apenas quis alcançar a mim mesma. Num entrelaçar de sonhos em um mar já seco de esperança, quantas vezes não caminhei? Para onde ia, de onde saía, sempre questões sem respostas. Sempre respostas que não se encaixavam com as perguntas.
Por quantas vezes acelerei os passos e fatos com medo de sentir seu contato com meu interior? E quantas vezes terei vacilado ao encontrar montanhas em meu caminho? Elas vinham muito a frente, no entanto as percebia a distância. Eu tentei evitá-las. O que realmente desejava? Atrasar aquilo do que não podia desviar. Funcionava? Depende...
Lembro-me bem do dia em que me vi atravessando calmos mares de solidão, estando tão calma quanto eles próprios e tão sozinha quanto sua designação, tudo se mostrava aparente. Dir-me-iam mais tarde que meu rosto se deixava banhar por lágrimas, enquanto eu sempre pensara estar banhada pelas gotículas que respingavam das águas aos meus pés. Diriam-me parecer desolada, quando tudo dentro de mim era paz.
Ah, mas por quantos caminhos tortuosos já passei... As montanhas que escalei, as montanhas das quais desabei. Tantas dores por ter alcançado e caído tão rapidamente do ápice da vida, de onde tudo parecia claro, para as dúvidas e temores do chão. O que haveria além daquelas montanhas? Por que continuava a subi-las, mesmo sabendo que a queda sempre seria dura e rápida?
Mesmo assim eram tantos caminhos. E as flores cujo perfume me dominava e levava a um breve repouso? Não deveria sobre elas comentar? Ora, mas eram belas. Vermelhas ou alvas, sempre estendiam seu longo manto de alento. Convidavam-nos a conversar, a parar e observá-las. Ah, mas aquelas rosas – pois sim, eram rosas – quão venenosa seria sua essência? Pois assim que permitiam uma aproximação, seu perfume sufocava, seus espinhos arranhavam, e você percebia: as rosas vermelhas só eram vermelhas por receber o respingar do sangue das vítimas de sua tentação.
Foram tantos os caminhos e tantas armadilhas a frente que diminui a velocidade da minha esperança. Passei a olhar para trás. Vestígios de problemas vencidos, topos de montanhas atravessando as nuvens... Era passado, mas era tudo o que conhecia. Sendo assim, era tudo de que não tinha medo, pois tudo à frente era incerto. O que deveria fazer?
Pois então sentei ao chão e me desprovi da luz, fechando os olhos. Percorrida uma estrada tão intensa e por tantos anos, talvez essa tenha sido a minha primeira reflexão: Deveria apenas olhar para trás e me agarrar ao passado? Relembrar as dores sofridas, as quedas causadas, as lágrimas jorradas? E as imagens de minhas falhas apareceram com tanta nitidez quanto a de um pesadelo, mas eu já as conhecia. Já as vivera.
As dores ainda me dominavam e eu já não queria avançar. Para quê? Seria sempre aquilo, pois sempre aquilo fora. De fato, enquanto recordava aqueles sentimentos, eu não me movia. Sofria em silêncio ou gritava, mas nada mais poderia me machucar: já passara. Porém isso não tinha mais lógica, pois a vaga lembrança me retirava a paz. A lembrança? Ou eu mesma?
A cada lembrança, os espinhos das rosas se transformavam em adagas; adagas cuja bainha era o meu peito. Perfuravam-no para que lá pudessem se acomodar. As rosas brancas cada vez mais próximas dos tons avermelhados do destino... O sangue jorrava.
Mais tarde me contariam a verdade aparente. No entanto, se aparente, seria mesmo verdade? Enfim... Diriam-me, pois, que não eram os espinhos das rosas que me perfuravam, mas sim eu mesma. Lembro-me de ter virado a face, em descrédito, até perceber que fazia sentido. Caminhos me esperavam, mas eu permanecera parada, presa, definhada. Pois meu algoz não havia sido eu mesma? Não teria sido eu quem manuseara do punhal que matara minhas esperanças?
Ah, que erro... Se haveria tempo de me reerguer, não sabia bem, mas uma certeza se formara: Não teria mais medo de arriscar, pois fato nenhum poderia me machucar mais do que esse medo; esse medo que me fazia enfrentar as piores dores pelo simples fato de existir. Não, não olharia para trás. No passado apenas encontraria força, enquanto no futuro tudo era desconhecido.
Ser errante por rotas e pensar, seguir a vida nunca foi fácil. Eis que nada realmente é fácil, ao menos que seja para depois se tornar difícil. Ser vivo decadente, à sua frente sempre haverá barreiras. Ostentar a vida em seu valor, a desistência é a sua pior pena. Pois acreditar e saber da imensidão do tudo é reconhecer-se ignorante, enquanto que reconhecer-se ignorante é mostrar sua essência puramente humana.