Limites
A quantidade de vida de cada tem medidas diferentes por aí.
As marés cheias de cada um chegam até certo ponto da areia, as ondas de cada um tem uma intensidade, a limpidez da água, a cor da areia, os desenhos que o mar faz no solo ao recuar, cada um tem sua forma e não há como comparar uma praia a outra, são únicas em localização geográfica, profundidade e beleza.
Há uma inspiração e uma expiração calma no mar, e o som que toda essa força produz me remete às nossas interações, de se contrair e relaxar durante uma vida inteira. As nossas brigas, os nossos amores, as nossas idas e vindas, as nossas separações e viagens, as nossas palavras carinhosas, um cafuné, uma despedida, um favor, um sorriso, uma decepção, um choro, uma luta, uma vitória, uma queda....
Ah, não se esquece alguém. Nos tornamos responsáveis por todos que cativamos. E às vezes vamos nos lembrar com um sorriso bobo no rosto, às vezes vamos nos olhar por um tempo e relembrar sem falar, às vezes vamos guardar com carinhos um presente da avó, às vezes vamos fingir que nada aconteceu, mas fingir ainda é lembrar, é um tipo de cuidar. Continuaremos até nos esquecermos, e até lá teremos pequenas doses de felicidade diárias, depois ficarão mais raras, essa satisfação emocional causada pelas experiências que criamos entre nós ao interagirmos. Faço questão dessa felicidade criada com o outro, mesmo que por um pequeno gesto, mesmo que esse gesto seja apenas o silêncio.
Como pode um copo com café, um chá com os pés sobre a mesa de centro ao estar com outro, mesmo que sem falar, fazer tanta diferença? Como pode uma garrafa com algum teor alcoólico e alguns amigos a conversar ao redor de uma mesa ser tão importante de repente?
O mar é um grande reservatório de lembranças, e a praia somos nós a nos relacionar...