Partidas (*)

A verdade é que eu não sei o motivo pelo qual você se foi...

Talvez fosse sua hora... com certeza era sua hora... com toda certeza não era a minha: eu não estava pronta! Eu não podia continuar a jornada dessa vida sem você... sem você ao meu lado.

O vazio que ficou é tão grande...

Algo que ninguém nunca preencherá dentro de mim...

Você: meu amor incondicional!

Você: meu amor primeiro!

Você: meu único amor!

Por vezes te culpo por ter partido assim... por ter me deixado tão cedo... quando eu ainda dependia exclusivamente do teu amor... eu sempre dependerei do teu amor!

A sua partida fez com que quebrássemos nossas promessas de dividir todos os momentos da vida, de partilhar com você todas as minhas “primeiras vezes”... você, que pra tudo me tinha um bom conselho... e quando os conselhos não bastavam, o teu abraço me acalentava a alma.

A sua mania de ler meus pensamentos, essa sua capacidade de decifrar meus sonhos... toda a possibilidade que eu tinha de ser inteira perto de você. Simplesmente eu. Totalmente.

Desde quando você partiu, nunca mais fui a mesma... eu nunca mais pude ser a mesma...

Perdi a minha fragilidade e coloquei de lado grande parte dos meus sonhos, dos nossos sonhos... simplesmente, porque passei a crer que eles não me cabiam mais: não sozinha... não sem você!

Me dei conta que sem a sua presença, sem o teu apoio, a vida se tornara impiedosa.

De repente... não mais meus instintos... não mais meus sonhos... não mais minhas atitudes impensadas...

Todos os erros agora eram meus. Somente meus! Todas as conseqüências eram minhas... todas minhas... todas elas!

E todo esse fardo me pertence. Não tenho escolha. Sigo.

Tive que aprender a ser para os outros, tudo o que você foi pra mim, e por esse motivo, a cada dia, te admiro mais e mais.

Não pude mais ser transformada pela tua simples presença: mas aprendi a transformar a todos que eu amo e que de alguma maneira, passaram a ver em mim, o que antes viam em você.

Não sou essa força toda: apenas me mantenho.

Hoje entendo o “quê” de tristeza que sempre via nos teus melhores sorrisos.

E enquanto eu sou o porto de tantos, me sinto perdida sem ter pra quem correr...

Então, fecho meus olhos e nos meus sonhos te encontro. Lá... no nosso infinito particular, uno... lá onde me desmorono no teu abraço e te sinto sorrir enquanto te conto como foi o meu dia...

Eu te perdi... e não compreendia.

Deus me fez mãe... e passei a te compreender.

Eu a vejo e sinto em absolutamente todos os lugares, em todos os momentos! Lembro de cada palavra que um dia dirigiu à mim...

Sinto falta da quentura da sua mão na minha e do beijo molhado na bochecha...

Hoje, eu os dou ao nosso mais forte elo, que mesmo você nunca o tendo conhecido, tem mais de você nele do que eu poderia imaginar! E quando eu sinto a mãozinha dele, com a mesma “quentura” que a tua, por cima da minha, eu não sei nem o que dizer!

Simplesmente, agradeço à Deus, por de alguma forma te deixar ficar...

… os olhos marejam

… saudade de quem mais me amou no mundo

… saudade de quem eu sempre vou amar

- Benção, mãe. Já é tarde, vou deitar!

É... eu sei... pena que não pode ficar!