A racionalidade do coração
Ela passa apenas como quem vai! Vai pro mercado, pra escola, pra farmácia: como qualquer um seguindo a rotina da sua vida. Dias vazios, onde a mente vaga por absolutamente nada.
Ele apressado, sisudo: está sempre a perder a hora, a esquecer, a ralhar consigo!
Os anos passaram tão facilmente e eis que cada momento é praticamente igual, existe uma linearidade de sentimentos que assola o coração. Menos mal. Nem amor e nem dor.
O dia a dia, o mesmo dia a dia... ah, coloca sempre tudo no seu devido lugar, em caixas, separadas, organizadas por cor e emoções... caixas nas quais optamos por não mexer: que trabalho dá voltar tudo no lugar!
Quem é que não guarda, escondido em sua alma, um único sentimento que seja, que gostaria de nunca relembrar, reviver... (só pra não ter que talvez sofrer novamente por tê-lo que dentro da alma guardar – certas coisas não foram feitas pra se viver)
E assim, nos damos conta que, a vida que nos incentiva a burlar regras, a quebrar paradigmas, é a mesma vida que nos ensina a reprimir... reprimir saudades, vontades, lembranças, desejos...
É muita racionalidade pra um coração só, ele pulsa em branco e preto...
Me digam, onde está escondido o brilho do nosso olhar? Tragamos o amor de volta!!! Busquemos o amor. O amor e seus poréns, suas virtudes, suas dores, sua não reciprocidade: mas sintamos algo!!!
Ela pensa: deixa como está!
Ele pensa: sou feliz assim!
E quem iria duvidar?
E na pressa das horas, quando os seus olhares se cruzam, são roubados deles alguns segundos do marasmo e uma tempestade de sensações inundam seus corpos.
Ahhh, um olhar! Sempre a chama de um olhar! Um encontro de saudades intocadas.
Prenderam a respiração...
Perderam a respiração...
…
Perderam o momento...
Os olhos se cruzam, o coração se aquece e a vida chama cada um à sua função. Fogo que vira brasa. Brasa que vira cinza... e a lágrima as levou...
Melhor é que não se perturbe a solidão alheia quando ali não se pretende permanecer...
A eles restaram apenas a lembrança desse olhar profundo, dessa alma que ainda vibra, mas que de próprio punho: escolheu por não acontecer!