Afundados no tempo
Quanto ao tempo que muitas pessoas dispõem parece que realmente lhes falta tempo. Falta tempo para almoçar tranquilamente, para ler o livro tão desejado, para dançar despreocupado em plena luz de uma semana que nem começou. O tempo transformou-se em algo complexo que não pode ser controlado por existirem coisas cotidianas fundamentais para que o processo seja mantido.
O sorriso descontraído ficou na infância de muitos que para alguns foi a infância que também nem existiu por existirem pais trabalhando e filhos empenhados nas inúmeras atividades escolares. A vontade dos atuais acadêmicos é que a sociedade entre nas universidades e que a verdade de um seja pregada no outro em nome do progresso, em nome da democracia, em nome da construção de uma feliz humanidade. Um encontro com os amigos no final de cada semana é o sinal de que quase todos estão cansados e quase que explodindo diante do trabalho.
A tranquilidade no parque em que pensamentos eram exalados foi substituída pelo estado depressivo de famílias inteiras que falam agressivamente quando percebem jovens fazendo algo que contrarie um determinado sistema moral. Se foi a liberdade e com a liberdade veio o sofrimento, e com o sofrimento veio muita mais fé de que no amanhã existe a salvação ou de que trabalhar com metas é o caminho para atingir a meta de apreciar o agora. Gritar não adianta para orientar quem empurra o tempo e calar-se também não é conveniente segundo quem busca aproveitar o tempo ao máximo sem abandonar das futilidades do cotidiano.
Um amor universal que tanto pregam não é nem compartilhado no seio da família, um desejo de aliciar a loucura não é revelado por existir em muitos uma incoerência de valores. O roubo está generalizado e todos sabem que o ladrão não mata para roubar, o ladrão mata é para se vingar, o ladrão mata após ter inúmeros desejos barrados. Existe uma ânsia de condenar o criminoso e não conseguem parar e pensar sobre o impacto da ética por falta de tempo, pela própria falta de ética.
Empregam todo o ouro que possuem para gerarem emprego e criarem esperança como forma de contribuição humanitária, enquanto que adormecem preocupados sem conseguirem ajustar as próprias emoções que resolveriam as questões de tempo. Aos senhores falta conhecimento para que possam administrar o próprio ego diante tantas possibilidades de negócio e trabalho, aos escravos falta conhecimento e talvez sejam os escravos que pela falta de escolhas consigam viver melhor que muitos senhores. Quando percebem o tempo se acaba e agora ficamos na dúvida se os velhos são frustrados que reconhecem o ceticismo, que sofrem pelo ceticismo, ou se os velhos sã frustrados pelo tempo que passou e nada fizeram e na velhice apenas rezam para que possam um dia estar em um belo lugar atrás das estrelas.
Escritor Joacir Dal Sotto