À Espera
Sob velhas folhas encontram-se partes esquecidas de alguém que não mais existe. Lágrimas e sorrisos que juntos nasciam da face reluzente de um ser extasiado pelos acontecimentos. E aqueles momentos, me faziam acreditar num recanto puro, sem qualquer tipo de preconceito, desrespeito... O relógio corria tão devagar, e ao caminhar pelas calçadas tranquilo, observava flores por todos os cantos, casais de todos os gêneros sentados ao banco sem qualquer indício dos olhos reprimíveis dos hipócritas!
Perdidos entre tristes sombras de pessoas queridas, encontram-se desejos mortos e sepultados! Tudo extinguiu-se com o passar do tempo, e apenas lembranças permanecem aqui. O Sol simplesmente se apagou desse meu adorado mundo. E nessa escuridão dilacerante, onde a imbecilidade cria suas raízes de forma lenta, ando desolado junto a minha amiga Depressão.
Deitados bem abaixo dessa linda árvore, encontram-se resquícios da harmonia que dava as caras por todas as tardes. Hoje, apenas os conflitos passeiam pelas minhas ruas, e a insegurança não me permite andar por nenhuma direção. Estagnado, sem uma forte mão para me guiar, vegeto em meu aposento. A cada dia, sinto as minhas expectativas naufragarem nessas águas poluídas que ora ou outra tornam-se um pouco mais límpidas.
Tantos cenários cativantes me faziam crer que a vida, de fato, era simples e harmoniosamente feita para sorrirmos sem nenhum tipo de preocupação. Mas conforme o tempo passa, as vendas vão caindo e o mundo perfeito e especial vai sendo desconstruído. E o que vemos: são cenas horríveis de animais irracionais que teimam em pregar o amor com o ódio tão característico da espécie. Por que tudo não pode ser como antes? Aquelas coisas simples me faziam contente e esperançoso em um termo geral: a corrida dos pequenos metais pela pista de areia, o sobe e desce nas castanheiras, o futebol na pequena quadra, a travessia até ao barquinho, os jogos de Atari, o pique-esconde, a guerra de mamona, a corrida pelo calçadão, a gravação das fitas k-7...
Sob olhos repulsivos do presente, me rastejo sobre os trilhos enferrujados das ilusões. À espera de que o trem da misericórdia
venha e finde tudo, deixando a minha matéria voltar para a sua casa no imenso cosmos, juntamente com as estrelas. Sei que quando os meus olhos se fecharem, todos os tormentos se findarão! Não haverá mais essas tardes ordinárias e tristonhas. Não existirá mais a necessidade de me firmar entre os pontos fixos e estáveis. Não terei que me submeter a esses animais frios, que proferem tantos textos preconceituosos, e ainda pensam que transitam em terrenos santos, cujo amor se estabelece como pano de fundo. Os elos consistentes permanecem significativos e reais nesse meu desesperançoso mundo. E eles são as únicas peças que dão sentido a essa máquina da vida.
Não parto, pois sei que não posso e não devo. Não sucumbo à vida de forma pensada, pois tenho o dever de permanecer por aqui, e dar sentido e rumo a seres tão dependentes de mim. Começo a ter consciência do que busco, e não preciso ir muito além das minhas fronteiras. Não necessito escalar tantas montanhas e nem perder tantas noites de sono. O que busco está dentro de mim e ninguém jamais poderá interferir no andamento das coisas. Eu possuo o poder para transformar a minha vida. Somente eu posso fazer com que tempestades invadam o meu ambiente e da mesma forma que se enfraqueçam bem longe daqui.
Sou esse mundo que vivo, pois o que tenho em mente faz com que assim se designe as coisas. Sou senhor dos meus atos. Sou homem, animal, poeira, o que queira... mas sempre com o domínio absoluto sobre tudo. Não transito e crio raízes em edificações duvidosas. Sou o meu próprio Templo e vozes e gestos persuasivos jamais entrarão. O convívio pacífico, entre culturas que se diferem, é a demonstração mais plausível do verdadeiro amor. Há espaço para todas as criações. Só não pode haver
espaço para conflitos inúteis, intolerância...
Acariciados por raios solares desse lindo dia, encontram-se todas as diversidades que transitam intranquilas por ruas inseguras. Há um sepultamento diário da cordialidade e do aceitamento natural das circunstâncias, que se estabelecem a partir de sentimentos puros,
tão raros nos dizeres e atitudes alheias. Há tantos julgamentos sem qualquer base, feitos por bocas pútridas! Observo tantos monstros
repudiando o que não fere a ninguém, e assim causando feridas profundas em boa parte da sociedade. Constato que essas peças deprimentes vivem em um mundo paralelo ao real, onde as ideias, o pensamento coerente, o discernimento das coisas, definham de forma lenta em pântanos viscosos numa Terra sem volta. Nesse recanto insólito, de pessoas banais, não há espaço para o desenvolvimento, pois se ocupam a todo momento de situações que não lhe dizem respeito. O regresso é o carro-chefe dessas anomalias!
Abaixo de um céu azul, enfeitado por nuvens alvas em uma tarde qualquer num futuro distante, vejo todos seguindo por diversas estradas com destino a lugares calmos e acolhedores. Não existem traços imperfeitos nesse cenário que aqui se faz. Observo o respeito imperando em todas as camadas sociais, e a diferença não sendo empecilho para ninguém. Lado a lado caminham as Opiniões diversas, sem que para isso se velem os indivíduos que pensam contrários ao que se estabelece.
Creio, que quando os olhos se abrirem por inteiro já será tarde demais. Tantas barbáries são exercidas em nome de uma suposta moral,
em nome de um segmento político, ou de supostos deuses. Tantas pontes construídas para alcançar o inalcançável, e bem ao lado, a metros , a possibilidade real e concreta de fazer o bem a quem precisa. Joguem suas preces em poços profundos! Extirpem esses preconceitos inaceitáveis de suas entranhas! Saiam dessas cavernas bichos escrotos! Gritem enraivecidos em prol de algo maior, que fará sentido nessa curta vida! O tempo passa, e muitos não percebem que seus verdadeiros semelhantes habitam histórias importantes: sempre são os alvos do contexto! Os que sucumbem ao pé de um grande herói ou semideus. Porém, esse recanto que almejamos e que tanto melhora a autoestima da vida, não se tornará concreto. Sempre estará figurando entre palavras e pensamentos, num mundo norteado pela utopia.
ALEXSANDRO MENEGUELI- 26/03/2015