UM LUAR NO SERTÃO
Quem já admirou um luar no sertão, sabe do que é que eu vou falar, será que existe algo mais lúdico e singelo, mais calmo e sereno, acho que não. Com uma viola chorando e um caboclo a murmurar canções de pastoreio e plantação, tudo de “bão sô”. Fogueira ao pé do chão, batatas doces assando no fogo acolhedor, aquela pinguinha descendo redondo, pela garganta, e só serenar, sonhar, suspirar. O sertanejo é um batalhador, um respeitador da natureza, um admirador dos carinhos do céu, e das lágrimas da chuva. Seus parceiros de prosa e labuta, sua companheira de fé, seus filhos, tudo juntinho, todos chegados, muito afeto e compreensão, ô luar no sertão, coisa boa. Aquele dedinho de prosa, aqueles joelhos dobrados em agradecimento a uma boa colheita. O conversar de cócoras, tudo me remete ao aconchego caipira, ao bom senso, ao mais simples ato de partilhar. A roupa nova de missa, as chinelas do dia a dia, para ir até a igreja rezar, os namoros tímidos no coreto da praça, a bandinha, saudades do interior, como é bom relembrar. A pescaria, as mentiras de pescador, sô, de praxe, faz parte. Os banhos no rio, diversão sem pagamento, sem preocupação, o bolo de milho, a limonada gelada, a pá, o formão e a enxada, as sementes, a vida árdua, a alegria da colheita, o franguinho na panela, a polenta, na chegada, sabor de união, de tarefa cumprida, e a emoção no fim da jornada. O leitinho quente, servido pela vaca malhada, a verdura colhida da terra e as raízes por eles plantadas, tudo vale a pena, quando a alma serena, e a rede na varanda, ajuda a relaxar. Ai, um no luar do sertão, é tudo que se precisa, para renovar as energias, e a vida segue seu trilhar contínuo para acordar um novo dia.
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 03 de fevereiro de 2015.