Memórias Póstumas de uma paixão (VI)
Sônia aprecia uma taça de vinho, desses nem caro, nem barato, daqueles possíveis de decantar e possível ao seu orçamento. Ela escuta Adele, sua música preferida, "Don´t you remember", a tradução explica, mas não justifica muita cosa.
Ela está só, não só de solidão, mas só, naquele estado que apenas sacia sua lascívia, libido, tesão e desejo. Não pergunte quanto tempo, mas faz anos. Se é ruim? Pelo contrário, é ótimo. Não é a pessoa, são os momentos, daqueles recheados de diálogos, risadas e sexo de qualidade. Felipe conhece a anatomia do seu corpo, conhece o tempo necessário entre o prazer próprio e o prazer de Sônia.
Se houve envolvimento? Não. Muito menos amizade e relacionamento. Sempre soube que não fora amada e até prefere assim. Não o enxerga no seu futuro, mas o deseja e o repele no presente. Uma luta entre o sagrado e o profano, o certo e o errado, o carnal e o espiritual. Mas, ele sempre aparece e reaparece, fazendo sua permanência o seu Tendão de Aquiles.
Na verdade o problema nunca foi ele, sempre soube do seu estilo canalha, capaz até de seduzir menores de idade para massagear seu ego e driblar seu medo da solidão. Nunca soube ser só, a ponto de qualquer uma servir. Seu maior triunfo foi uma baita menina, linda por natureza, que se tornara um band-aid para dor que sente da mulher que outrora perdera. Fora isso, é um homem como outro qualquer, sem caráter.
Qual o problema então? Começou a fazer coisas que tinha ciência que a faria repensar a balança de prós e contras de manter essa situação. Passou a testar a sua paciência. Ensaiado o dia do basta, bastou! Não é uma questão de amor próprio, mas de saber que no jogo da sedução, deve-se ter limites e respeito. Ele não a respeitou, isso a feriu, e o nunca mais às vésperas do aniversário de alguns anos aconteceu.
Candidatos à vaga existem, mas seus projetos são outros, no momento, mais uma taça de vinho e um sono doce e suave.