Memórias Póstumas de uma paixão (II)

Texto II – Malditas lembranças

14/01/2011

Cínthia sabia que estava apegada apenas às lembranças e nem tanto ao homem com quem compartilhou vários momentos felizes. Estava presa às sensações que sentiu, as risadas, os passeios, o sexo, o gemido, o mar, ela sabia. Sabia também que aquele homem, nem a faria no mínimo satisfeita, em uma relação baseada em convivência, relacionamento e compromisso.

Aliás, nem nome ele dava aos relacionamentos, pois ele gostava de viver momentos e ela não tinha sido domesticada para isso, ela queria pagar sim um alto preço para ter esses momentos ao lado daquele ser que não tinha nada a ver com ela, mas precisava de segurança pra isso.

Não obtendo e sendo vítima daquele comportamento sutil e masculino que ao desejar abandonar se faz abandonado, deixou-a no vácuo, cheia de dúvidas e culpas. Sim, sim! Ele mentiu, culpa dele. Você se iludiu, culpa sua. O fogo da paixão não deixou você perceber nada com clareza, mas em um dado momento a razão te fez pressão e você optou em parar de se humilhar. E o que restou? As malditas lembranças.

Esses momentos, em forma de lembranças que confundem e fazem Cínthia, Maria, Josefa, Grace idealizar, desejar um retorno de novela, um telefonema, um e-mail, uma pitada de ódio. Mas, nada acontece e para pior a situação, o tempo se torna lento e eterno. Só restou uma herança, um pacote com as malditas lembranças. Pra que servem afinal?

Seria uma forma de não deixar morrer a sensação momentânea de felicidade que sentiu? Um ataque das paixões que militam contra sua alma e a tornam cativa? Talvez porque lembramos do último e não do primeiro ou terceiro homem que acreditamos ser o grande amor da nossa vida? Para nos mutilar com a verdade de ter sido tudo teatro?

Cínthia não tinha as respostas e chorava ao lembrar desses momentos. Saudade? Falta de amor-próprio? Não. Apenas a conseqüência de uma tentativa frustrada, de um risco desnecessário, momentos certos com a pessoa errada, mas e quem afinal, tem bola de cristal?

O fim: desastroso. Mas, não forte o suficiente para apagar esses flashes dessas malditas lembranças. E nesse processo, sobreviver é sua meta atual. Até que Cínthia compre no mercado clandestino uma bola de cristal, um manual ou um radar de encantados disfarçados.

Sally Bypholar
Enviado por Sally Bypholar em 29/01/2015
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