Memórias Póstumas de uma paixão (I)
14/01/2011 Brasília/DF
Texto I – O luto da paixão
A paixão parece ser uma trajetória bem linear, com começo, meio e fim, pelo simples e único fato de ser uma paixão. Não que ela seja ruim, mas não é sua característica a permanência. Mesmo não tendo regras de quando, como e quem, vários motivos rompem a transição, a metamorfose, a saída do casulo para o vôo de se transformar em amor.
Os motivos desse rompimento podem ser vários: insegurança, trauma, falta de reciprocidade, traição, ilusão, medo ou falta de interesse e honestidade de uma das partes. Só se percebe a existência desses motivos depois de várias pérolas produzidas pela dor. Por incrível que pareça, essa dor não impede a repetição desse processo linear do luto da paixão, e acabam sendo contínuos e permanentes. Um vício subconsciente.
Alguns buscam ajuda profissional, uns não conseguem perceber e vão vivendo até que bem, esse processo linear sem maiores problemas. Já outros desistem de tentar e preferem a solidão ou apenas culpam os outros e vai saber. Cada caso é um caso. Mas, é inevitável que aconteça, ela morre ...
Seja como for, no velório dessa paixão, alguém chora o luto sozinho. Alguém se torna o responsável pelo homicídio involuntário de um sentimento que ainda está bem vivo e latente dentro de si. Alguém tem que reagir. Alguém tem que perdoar. Alguém tem que odiar. Ah... Esse alguém...
E nesse processo, registramos as memórias póstumas do que restou e vai saber o que fazemos com elas. Não sabemos o que vem depois do luto ... Mas para alguns, a paixão chega e o enlutado, com um panteão de pérolas, com o troféu da sobrevivência vai ou não se entregar. Resta saber se dessas memórias póstumas agora anestesiadas e esquecidas, esse ser, vai fazer ou não desse luto um manual de instrução.