sobre amar
Já reparou que não há, no mundo, palavra mais bonita que "amor"? É vero, pequena. E por ser tão vero quanto o que sinto, faço-me dono dos sentimentos mais profundos e bonitos. Note: não importa a métrica, nem bem a sonoridade, quem dirá então sua forma. A beleza do "amor" não está nas palavras que o sugerem, nem nas letras que juntas dão sentido àquilo que poderia ser só um embaralhado de simbologias estupidas. A beleza do amor está no seu interior. Naquilo que cada palavra leva consigo no seu "eu" -sim, usando de prosopopeias indiretas infantis-, e assim, fazendo-se sentimento universal.
Hoje, ao olhar-me no espelho, vejo um velho. A idade que me corroía sorrateira até os dezoito, já vem com vontade redobrada. E tende a piorar. Os anos passam tão mais rápidos quando se ama. O amor tem dessas coisas, meu bem, de fazer o tempo se desentender com ele mesmo. Imagina só: um dia ao lado de quem se ama soa efêmero como um suspiro. Pode parecer loucura, mas eu sei que acontece. E quando me vem com efemeridades... Ah, valha-me deus. Amar é um guerra de um só. Se um ganha, os dois são vitoriosos; mas se um perde, crede, ambos estão derrotados. Então não me venha com sentimentos contados. Eu não sei fingir que amo. Nem bem gostaria de sabê-lo.
Tomo um café, acendo meu cigarro. A cada trago ganho uma outra dor. A cada dor, um novo desfalecer da esperança de um recomeço. Recomeçar é relembrar; e relembrar é, em ultima instância, reviver. Mas se não doer, não sei que sinto. E se não sei que sinto, que rumo seguir? Como hei de reviver?
Amar é confundir-se contigo mesmo. E mais, retrucar-se, ou ainda, pagar a própria língua. Amar é travar uma batalha entre cérebro e coração, razão e emoção. Sei bem, pequena, o que isto significa: Mesmo que nunca sejas só minha, talvez um dia perceba que eu fui teu homem. Talvez perceba que por vezes eu fui capaz de amar por nós dois. Talvez eu mereça uma chance de ser seu.
Mas o cigarro acaba, o café esfria, eu apago a luz e, lentamente, vou adormecendo. Ouço, bem sussurrada em meu ouvido sua voz me dizendo: "Não posso ser sua agora, mas sinto sua falta. Um dia eu serei a mulher que pensas que sou, e aí então, estarei pronta para ser sua." talvez creia, talvez seja só uma desculpa, mas já esta tão tarde, e eu preciso tanto dormir... As vezes, amar é atirar-se, a dificuldade é perceber se atira- se "na cabeça" ou "de cabeça".
Por fim, amor ainda é milagroso. Sim, guria, ele faz milagres... Vira vidas e pessoas de perna pro ar. O amor é responsável por encher de coragem os mais fracos, e de botar medo até nos mais fortes. Amor é tudo, quando tudo parece ser nada. E se nada fosse, ainda assim, poderia ser amor. E eu que, que nada sou, nem mesmo posso afirmar que sei amar. Sobra-me a incerteza de que, um dia possa, mesmo que da boca pra fora, jurar-te amor eterno.