Sonhar com sonho, sonhar com realidade
O sonho depende de você - que o sonha -; a realidade não depende nunca. É o que acha pelo caminho. Pode ser escombros de sonhos abandonados, sonhos alcançados pela metade, caixas vazias, caixas cheias, cinzas do mundo ou sua aquarela.
No sonho há um rio que corre, no qual você deseja sempre um peixe de cada cor - se ontem você queria o peixe azul e hoje o fisgou, amanhã vai querer o vermelho.
A realidade, meu amigo, é uma bola de fuligem que desliza como a de neve. Possui pétalas de todas as flores imagináveis possíveis - perfumadas ou secas - e também possui restos apodrecidos que cheiram muito mal.
Se você denominar o sonho que você sonha de realidade, estará em baixíssimo percentual correto - porque na bola de fuligem haverá o peixe que você escolheu até então, mesmo que junto de tantos outros, como esqueleto, como fantasma, como objetos que engoliu ou como ele inteiro.
Mas se você denominar a realidade de sonho que você sonha, além de equivocado, estará frustrado. Não há dúvidas de que o seu peixe novo pode ser fisgado ou não, entretanto a realidade odeia ser de um só - um egoísmo igualitário e bem distribuído. Ela fará sempre questão de lembrar que é uma bola de fuligem, pétalas e restos apodrecidos do mundo inteiro. O sonho que você guarda importa no conjunto - ocorrendo ou não, mudando ou não -, mas não importa sozinho.
Por isso, sonhe para você e não por todo mundo.